sexta-feira, 22 de abril de 2016

O CATECISMO FRANCÊS DE JOÃO CALVINO: 1537 (TRADUÇÃO DO HISPÂNICO)



BREVE INSTRUÇÃO CRISTÃ
 (Tradução, organização e adaptação em Língua Portuguesa)




BREVE INSTRUÇÃO CRISTÃ



SUMÁRIO


PRÓLOGO DA EDIÇÃO TRADUZIDA


INTRODUÇÃO



1ª PARTE – DO CONHECIMENTO QUE PRECISAMOS TER DE DEUS E DE NÓS MESMOS

            1 TODOS OS HOMENS VIVEM PARA CONHECER DEUS

            2 DIFERENÇA ENTRE A VERDADEIRA E A FALSA RELIGIÃO

            3 O QUE DEVEMOS CONHECER DE DEUS

            4 O QUE DEVEMOS CONHECER SOBRE O HOMEM

            5 DO LIVRE-ARBÍTRIO

            6 DO PECADO E DA MORTE

            7 COMO SOMOS ENCAMINHADOS PARA A SALVAÇÃO E A VIDA



2ª PARTE – A LEI DO SENHOR

            1 OS DEZ MANDAMENTOS

                       

            PRIMEIRA TÁBUA

                       

                        PRIMEIRO MANDAMENTO

                        SEGUNDO MANDAMENTO

                        TERCEIRO MANDAMENTO

                        QUARTO MANDAMENTO

                       

            SEGUNDA TÁBUA



                        QUINTO MANDAMENTO

                        SEXTO MANDAMENTO

                        SÉTIMO MANDAMENTO

                        OITAVO MANDAMENTO

                        NONO MANDAMENTO

                        DÉCIMO MANDAMENTO

           

            2 O RESUMO DA LEI

            3 O QUE UNICAMENTE SE TIRA DA LEI

            4 A LEI É UMA ETAPA PARA SE CHEGAR A CRISTO



3ª PARTE – DA FÉ

            1 POSSUÍMOS A CRISTO PELA FÉ

            2 DA ELEIÇÃO E DA PREDESTINAÇÃO

            3 O QUE É A VERDADEIRA FÉ?

            4 A FÉ É UM DOM DE DEUS

            5 SOMOS JUSTIFICADOS EM CRISTO PELA FÉ

            6 SOMOS SANTIFICADOS PELA FÉ PARA OBEDECER A LEI

            7 DO ARREPENDIMENTO E DO NOVO NASCIMENTO

            8 RELAÇÃO ENTRE A JUSTIÇA DAS OBRAS E A JUSTIÇA DA FÉ

            9 O SÍMBOLO DA FÉ

                       

                                                Primeiro Artigo - De Deus Pai ou da Criação: Creio em Deus, Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra 



                                               Segundo Artigo - De Deus Filho ou da Redenção (Salvação – Do Segundo ao Sétimo Artigo): Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor



                                               TERCEIRO ARTIGO - O qual foi concebido do Espírito Santo e nasceu dA virgem MARIA



                                               Quarto Artigo – creio que Sofreu sob Pôncio Pilatos; foi crucificado, morto e sepultado; desceu aos infernos



                                                Quinto Sexto e Sétimo Artigos – creio que Ressuscitou dos mortos ao terceiro dia; Subiu aos céus, onde se senta à direita de Deus Pai Todo-poderoso, De onde virá julgar os vivos e os mortos

                                                Oitavo Artigo - De Deus Espírito Santo e da Igreja ou da Santificação (Santificação: Do Oitavo ao Décimo Segundo Artigo): Creio no Espírito Santo

                                               Nono Artigo - creio Na santa Igreja cristã católica, a comunhão dos santos

                                               Décimo Artigo - creio Na remissão (perdão) dos pecados

                                                 Décimo Primeiro e Décimo Segundo Artigos – creio Na ressurreição da carne, E na vida eterna. Amém 

            10 O QUE É A ESPERANÇA?



4ª PARTE – DA ORAÇÃO

            1 NECESSIDADE DA ORAÇÃO

 2 SENTIDO DA ORAÇÃO

            3 A ORAÇÃO DO SENHOR



                        1ª PAI NOSSO QUE ESTÁS NOS CÉUS

                        2ª SANTIFICADO SEJA TEU NOME

                        3ª VENHA O TEU REINO

                        4ª SEJA FEITA TUA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU

                        5ª O PÃO NOSSO DE CADA DIA DÁ-NOS HOJE

                        6ª PERDOA-NOS NOSSAS DÍVIDAS, COMO TAMBÉM NÓS TEMOS PERDOADO A NOSSOS DEVEDORES

                        7ª E NÃO NOS DEIXES CAIR EM TENTAÇÃO, MAS LIVRA-NOS DO MAL. AMÉM



            4 PERSEVERAR NA ORAÇÃO



5ª PARTE – DOS SACRAMENTOS

            1 NECESSIDADE DOS SACRAMENTOS

            2 O QUE É UM SACRAMENTO?

            3 O BATISMO

            4 A CEIA DO SENHOR



6ª PARTE – DA ORDEM NA IGREJA E NA SOCIEDADE

            1 OS PASTORES DA IGREJA E SUA AUTORIDADE

            2 AS TRADIÇÕES HUMANAS

            3 DA EXCOMUNHÃO

                4 AS AUTORIDADES

            COMPLEMENTOS: QUEM FOI CALVINO? QUAL FOI SEU PAPEL COMO “REFORMADOR”? 

            O Credo de Lutero

            REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

INTRODUÇÃO DA EDIÇÃO AOS ESPANHÓIS TRADUZIDA

           Depois de se ter visto obrigado a permanecer em Genebra em setembro de 1536, Calvino viu que o ensinamento da fé reformada precisava de um breve estudo que pudesse ser entendido por qualquer pessoa, que servisse de um livro de instrução básica para toda a igreja.
Durante o inverno de 1536-1537, o mesmo João Calvino escreveu em francês, a “Breve Instrução Cristã”[1] que nos honramos em reeditar hoje. 
Trata-se de um resumo de sua primeira “Instituição Cristã”, publicada no mês de março de 1536, e na qual encontramos literalmente traduzidos para o francês muitíssimas traduções livres da “Instituição”.
Esta “breve instrução” foi substituída em 1542 por um catecismo feito de acordo com um novo plano e redatado em forma de perguntas e respostas, que foi transformado no Catecismo das Igrejas reformadas dos Países Baixos.
Acreditamos que o conhecimento do “Catecismo” tenha deixado esquecido a “Breve Instrução Cristã”, cujos méritos, naturalmente, são e continuam sendo extraordinários. Sua exatidão e riqueza de estilo e a admirável profundidade de seu pensamento e, a elevação das diretrizes práticas de cada frase que fora traduzida literalmente, se convertem aos nossos olhos tanto no passado como hoje, em uma pequena obra escrita: admirável para evangelização e firmeza da fé.
Desde já agradecemos pelos frutos que certamente produzirá este livrinho completamente cheio do saudável ensino das Sagradas Escrituras.
Pedro Marcel

INTRODUÇÃO 
            Certo homem escreveu um dia: “Deus sujeitou-me o coração à docilidade através duma conversão repentina. Este homem se chamava João Calvino.
            Creio que Deus prepara a hora para os homens e os homens para a hora. Se lermos Efésios, do capítulo 4 em diante, vemos que os homens dados por Deus para a Igreja são aqueles que a Igreja precisa. Precisamos de homens novamente como Atanásio, por exemplo, conhecido como um “pai da Igreja” que estava pronto a ficar em pé contra todo mundo. O mundo troca os ensinamentos bíblicos para justificar aquela maneira que os homens têm de pensar e agir. Mas Atanásio ficou de pé com a verdade, independente de qualquer consequência. Ele dizia: Cristo é Deus de verdade!
            Mas hoje os tempos são outros. Somos uma geração de pessoas apressadas. Vivemos espremidos entre uma e outra atividade. Não temos tempo nem para reconhecer os valores eternos das Sagradas Escrituras e diga-se lá aplica-los em nossas vidas... Precisamos inevitavelmente conhecê-las e vivê-las.
            Como certa vez disse Adão Carlos Nascimento em seu livro “A Razão da Nossa Fé”: “Precisamos estar preparados para comunicar a razão da esperança que há em nós. Mas isso não é fácil. Nossas doutrinas estão baseadas na Bíblia toda, de Gênesis a Apocalipse. Nossos teólogos escreveram tratados minuciosos sobre nossas doutrinas. São muitos livros para serem lidos, analisados, compreendidos....”.
            Antes mesmo de podermos “dar a razão da esperança que há em nós” (1Pe 3.15) precisamos de um alicerce firme e seguro quanto a alguns assuntos prioritaríssimos referentes aos primeiros passos que na nossa fé cristã precisamos saber inevitavelmente para que possamos ser como estes homens que souberam o que é verdadeiramente crer e viver para Deus da maneira correta sem temer os resultados disso. 
            Que possamos ser influenciados sem medo pelo que se encontra nesta apostila, pois nada mais está aqui do que a vontade de Deus para as nossas vidas. Que Ele nos dê desejo de a aceitarmos toda, pois nos dará entendimento sobre tudo que nela se encontra se assim quisermos; só assim seremos capazes de suportar tudo por amor dAquele que nos amou primeiro.

Marcos Ramos
BREVE INSTRUÇÃO CRISTÃ
1ª PARTE – DO CONHECIMENTO QUE PRECISAMOS TER DE DEUS E DE NÓS MESMOS
           
            1 TODOS OS HOMENS VIVEM PARA CONHECER DEUS
            Não há como dizer que nem mesmo entre os brutos ou ignorantes e completamente selvagens é possível se encontrar um homem que não precise de certo sentido religioso, e isto é porque todos temos sido criados para este fim: conhecer a Majestade de nosso Criador, e, uma vez conhecida, valorizá-la acima de tudo e lhe honrar com todo temor, amor e respeitosamente.
            Esquecendo-nos dos infiéis que apenas tratam de limpar de suas memórias este sentido de Deus, tendo isto introduzido em seus corações, nós, os que reconhecemos ou abraçamos publicamente a devoção, e, considerando que esta vida envelhece e que logo terminará, por isso, ela (a nossa vida) não deveria ser outra coisa senão uma vida de meditação na imortalidade. Mas, em nenhuma parte poderemos encontrar a vida eterna e imortal se não for em Deus, por isso, o principal cuidado e preocupação de nossa vida deve ser a de buscar e desejar Ele com todo o desejo de nosso coração e encontrar o único descanso somente nEle.

            2 DIFERENÇA ENTRE A VERDADEIRA E A FALSA RELIGIÃO
            Ninguém gostaria de ser considerado como sendo totalmente indiferente da devoção e do verdadeiro conhecimento de Deus, já que se está demonstrando por aceitação geral que se levarmos uma vida sem religião, vivemos miseravelmente e não nos diferenciamos em nada dos animais.
            Mas existem maneiras muito diferentes de qualquer pessoa demonstrar a sua religião, pois a maioria dos homens não vive exatamente movida pelo temor a Deus. É por isso que, querendo ou não, se sentem assediados por esta idéia que continuamente lhes vem na mente: “existe algum Deus que com o seu poder é capaz de nos manter em pé ou de nos fazer cair”, então, impressionados, de uma outra forma, pelo pensamento de um poder tão grande, têm por Ele certo respeito por medo de que venha se irritar contra eles mesmos se o desprezarem demais. Naturalmente, ao viverem fora de Sua lei e rejeitarem toda honestidade, chegam a demonstrar uma grande despreocupação, pois estão desprezando o juízo (“tribunal”) de Deus. Ainda mais, como não conseguem compreender Deus corretamente pela sua infinita Majestade, mas apenas pelas suas loucas e irreflexivas vaidades de suas mentes, com toda certeza, se afastam do verdadeiro Deus. Eis aqui porque mesmo quando fazem um esforço cuidadoso para servir a Deus, não chegam a fazer na verdade nada, já que ao invés de estarem adorando o Deus eterno, adoram, em seu lugar, os sonhos e imaginações de seus corações.
            Mas o verdadeiro amor não tem base no temor, o qual pode se referir ao próprio juízo de Deus de uma maneira muito boa, pois chegam a ter tanto mais medo quanto que não podem escapar dele, mas, se isso for de um modo correto em um puro e verdadeiro zelo que ama a Deus e o respeita como a um verdadeiro Senhor se poderá abraçar a sua justiça se chegando a ter mais temor de Lhe ofender do que de se morrer. E quantos que possuem este zelo e não desejam fazer um deus de acordo com seus desejos e pelo seu próprio risco, mas que buscam o conhecimento do verdadeiro Deus de Deus mesmo, e não o entendem senão tal e como se Ele se manifestasse e se desse a conhecer a eles.

            3 O QUE DEVEMOS CONHECER DE DEUS
            Como a majestade de Deus ultrapassa em si a capacidade do entendimento humano e inclusive é incompreensível para este, temos que adorar tendo ainda que examiná-la para não nos vermos completamente incomodados com tão grande claridade.
            Por isto devemos buscar e considerar a Deus em suas obras, as que as Escrituras chamam, por esta razão, “manifestações das coisas invisíveis” (Rm 1.19-20; Hb 11.1), pois nos manifestam o que, de outro modo, não podemos conhecer do Senhor.
            Não se trata agora de uma percepção sem valor e sem importância para simplesmente manter o nosso espírito engrandecido, mas de uma coisa que precisamos saber, que é alimento e que confirma em nós uma verdadeira e sólida devoção, ou seja, a fé unida ao temor[2].
            Contemplemos, portanto, neste universo a imortalidade de nosso Deus, de quem sai o princípio e origem de tudo o que existe; seu poder que tem criado um tão grande conjunto e agora os sustenta; sua sabedoria que compõe e governa uma variedade tão grande e tão diversa por meio de uma ordem excelente; sua bondade que tem sido em si mesma causa de que tenham sido criadas todas estas coisas e de que agora subsistem; sua justiça que se manifesta de um modo maravilhoso na proteção dos bons e no castigo dos maus; sua misericórdia que, para nos levar ao arrependimento, suporta nossas iniquidades com tão grande doçura.
            Por certo que este universo nos ensinaria, na medida em que precisamos, e com muitas testemunhas, como Deus é; mas somos tão insignificantes que estamos cegos diante de uma luz tão brilhante. E nisto não pecamos somente por nossa cegueira, mas que a nossa perversidade é tão grande que, ao considerar as obras de Deus, tudo o é entendido mal e erradamente, alterando por inteiro toda a sabedoria celestial que, muito pelo contrário, resplandece nelas com grande claridade.
            Temos, portanto, que nos demorar na Palavra de Deus que nos descreve Deus de um modo perfeito por suas obras. Nela as suas obras não são avaliadas pela perversidade de nosso juízo, mas pela regra da eterna verdade. Ali aprendemos que nosso único e eterno Deus é a origem e fonte de toda vida, justiça, sabedoria, poder, bondade e disposição para perdoar; que dEle sai, sem nenhuma exceção, todo bem, e que, consequentemente, a Ele é devido justamente toda adoração.
            E ainda que todas estas coisas apareçam claramente em qualquer parte do céu e da terra, definitivamente, somente a Palavra de Deus nos fará compreender sempre e com todo o principal fim para qual existem, qual o seu valor, e em que sentido temos que interpretá-las. Então nos aprofundamos em nós mesmos e aprendemos como o Senhor manifesta em nós sua vida, sua sabedoria, seu poder; e como sua justiça e disposição para perdoarmos trabalham em nós.

            4 O QUE DEVEMOS CONHECER SOBRE O HOMEM
            O homem foi, a princípio, formado a imagem e semelhança de Deus para que, pela dignidade de que tão nobremente Deus o havia revestido, admirasse a seu Autor e o honrasse com o agradecimento que lhe fosse devido.
            Mas o homem, confiando na tão grande excelência de sua natureza, esqueceu de onde tinha vindo e quem o havia feito existir, e pretendeu se levantar contra Deus o Senhor. Foi, pois, necessário que fosse privado de todos os dons de Deus, dos quais se orgulharia loucamente, para que assim, lhe faltando desprovidamente toda glória, conhecesse ao Deus que o tinha enriquecido com generosidade e a quem havia se atrevido[3] a desprezar.
            Pelo qual, todos nós, que saímos de Adão, uma vez que esta semelhança com Deus desapareceu de nós, nascemos em carne da carne. Pois, sabendo que somos compostos de alma e corpo, sentimos sempre e unicamente a carne, de sorte que seja qual for a parte do homem sobre a qual colocamos nossos olhos, somente podemos ver coisas impuras, profanas e abomináveis para Deus. Pois a sabedoria do homem, cegada e assediada por inumeráveis erros, se opõe continuamente à sabedoria de Deus; a vontade perversa e total de afetos corrompidos em nada mais declara mais ódio do que para sua justiça (a de Deus); as forças humanas, incapazes de qualquer boa obra, se inclinam furiosamente em direção a iniqüidade.

            5 DO LIVRE-ARBÍTRIO[4]
            A Escritura prova com freqüência que o homem é escravo do pecado[5]; o que quer dizer que seu espírito tão facilmente estranho à justiça de Deus que não imagina, deseja, nem se apropria de coisa alguma que não seja má, perversa, iníqua e suja; pois o coração, totalmente cheio do veneno do pecado, não pode produzir senão os frutos do pecado.
            Não pensemos simplesmente que o homem peca como sendo obrigado por uma necessidade inevitável, pois peca com a permissão de sua própria vontade continuamente e pela sua inclinação. No entanto, como a causa da corrupção de seu coração odeia profundamente a justiça de Deus, e por outro lado toda sorte de maldade o atrai; por isso se diz que não tem o livre poder de escolher o bem ou o mal – que é o que chamamos de livre-arbítrio.

            6 DO PECADO E DA MORTE
            O pecado, segundo a Escritura, é tanto esta perversidade da natureza humana que é a fonte de todo vício, como os maus desejos que nascem dela, e os injustos crimes que estes cometem: homicídios, furtos, adultérios e outros parecidos.
            Assim, pois, todos nós, pecadores desde o vente materno, nascemos submetidos à cólera e a vingança de Deus.  
            Por último, durante toda nossa vida, avançamos mais e mais em direção a morte.
            Pois se não se existe duvida alguma de que qualquer iniqüidade é odiosa para a justiça de Deus, o que podemos esperar diante dEle, nós que somos miseráveis e estamos incomodados pelo peso de tanto pecado e manchados com inumeráveis impurezas, senão uma certa confusão, por causa de sua raiva justa?
            Este conhecimento, ainda causando terror no homem e lhe enchendo de desespero, nos é sim totalmente necessário para que, despidos de nossa própria justiça, privados de toda confiança em nossas próprias forças, e desprovidos de qualquer esperança de vida, aprendamos, compreendendo nossa pobreza, miséria e grande desonra, a nos prostrar diante do Senhor, e, reconhecendo nossa iniqüidade, impotência e perdição, venhamos admitir toda a glória pela santidade, o poder e a salvação.

            7 COMO SOMOS ENCAMINHADOS PARA A SALVAÇÃO E A VIDA
            Se este conhecimento de nós mesmos, que nos mostra nosso vazio, tem penetrado verdadeiramente em nossos corações, então não será fácil o acesso ao verdadeiro conhecimento de Deus. Este Deus já tem aberto para nós uma espécie de uma porta em seu Reino, ao destruir estas duas pestes perigosas: a segurança de que a sua vingança não nos alcançará, e a falsa confiança em nós mesmos. Então começamos a levantar em direção ao céu àqueles olhos até agora fixos e cravados na terra, e suspiramos pelo Senhor, quando somente descansávamos em nós mesmos.
            E por outro lado este Pai misericordioso, ainda quando nossa iniqüidade merece um tratamento bem diferente, se revela então voluntariamente a nós segundo a sua bondade que não erra, quando exatamente estávamos tão afligidos e aterrorizados. E pelos meios que conhece são úteis a nossa debilidade, nos chama do erro para o caminho reto, da morte para a vida, da ruína para a salvação, do reino do diabo para seu próprio reino. Para todos aqueles a quem seja digno dar de novo a herança da vida celestial, o Senhor estabelece como primeira etapa que se sintam entristecidos em suas consciências, carregados com o peso de seus pecados e estimulados a permanecer em seu temor; e por isso nos propõe, para começar, sua Lei, a qual nos exercita neste conhecimento.

BREVE INSTRUÇÃO CRISTÃ
2ª PARTE – A LEI DO SENHOR[6]
           
            1 OS DEZ MANDAMENTOS
            Na Lei de Deus se encontra para nós uma perfeitíssima regra de toda justiça, que podemos chamar com toda razão “a vontade eterna do Senhor”, pois está resumida totalmente e com claridade em duas Tabuas tudo o que se exige de nós.
            Na primeira Tábua nos está prescrito, em poucos mandamentos, qual é o serviço que é agradável a sua majestade. Na segunda, quais são as obrigações de amor[7] que temos para com o próximo.
            As escutemos, portanto, e veremos em seguida que doutrina devemos aprender e ao mesmo tempo que fruto devemos extrair.

            PRIMEIRA TÁBUA
                        PRIMEIRO MANDAMENTO
                        “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás deuses estranhos diante de mim[8]” – Êx 20.1-3.
                        A primeira parte deste mandamento é como uma introdução de toda a Lei, pois, ao afirmar que Ele é “Senhor, nosso Deus”, Deus se declara como quem tem o direito de mandar e a cujo mandato se lhe deve obediência, segundo disse por seu profeta: “Se, pois, sou eu pai, onde está a minha honra? E se sou senhor, onde está o meu temor?” (Ml 1.6)
                        Da mesma maneira lembra seus benefícios, colocando em destaque nossa ingratidão se não obedecemos a sua voz. Pois por esta mesma bondade com a que antes “tirou” ao povo judeu “da servidão do Egito”, também livra a todos os seus servos do Egito eterno, ou seja, do poder do pecado.
                        Sua proibição de se ter “outros deuses” significa que não devemos atribuir a ninguém nada do que pertence a Deus.
                        Afirma “diante de mim”, declarando deste modo que quer ser reconhecido como Deus, não somente “com palavras da boca para fora”, mas com toda verdade, do íntimo do coração.
                        Assim, estas coisas pertencem apenas a Deus, e não podem ser transferidas a nenhum outro sem que sejam tiradas dEle; estas coisas são: que adoremos somente a Ele, que nos apoiemos nEle com toda nossa confiança e em toda nossa esperança, que reconheçamos que tudo o que é bom e santo vem dEle, e que o homenageemos com adoração por toda bondade e santidade.

                        SEGUNDO MANDAMENTO 
                        “Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam” – Êx 20.4-5.
                        Do mesmo modo que pelo mandamento anterior declarou que era o único Deus, assim agora diz quem é e como deve ser honrado e servido.
                        Proíbe, portanto, que lhe venhamos dar “alguma semelhança”; e a razão disto nos é dada no capítulo 4 do Deuteronômio (Dt 4.15-19) e no capítulo 40 de Isaías, (Is 40.18-26), a saber: Não há corpo algum que venha dar forma ao Espírito.
                        Proíbe ainda mais que demos culto a qualquer imagem. Aprendamos, portanto, deste mandamento que o serviço e o louvor de Deus são espirituais: pois, como é Espírito, quer ser honrado e servido em espírito e em verdade (Jo 4.24).
                        Imediatamente confirma uma terrível ameaça, com a que declara quão gravemente o ofendemos quebrando este mandamento: Não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam” (Êx 20.5) “porque eu sou o Senhor teu Deus...”.
                        É como se dissesse que Ele é o único em quem devemos descansar e que não suporta que coloquemos a ninguém e nem nada do seu lado. E inclusive que vingará sua Majestade e sua Glória se alguns a transferirem para as imagens ou a qualquer outra coisa; e não de uma vez para sempre, mas nos pais, filhos e descendentes, ou seja, em todos, enquanto imitarem a impiedade de seus pais; do mesmo modo que manifesta sua misericórdia e doçura aos que o amam e guardam sua Lei. Em tudo o qual nos declara a grandeza de sua misericórdia que a estende até mil gerações, enquanto que somente destine a sua vingança a quatro gerações.

                        TERCEIRO MANDAMENTO
                        “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão[9] – Êx 20.7.
                        Proíbe-nos aqui abusar de seu santo e sagrado Nome nos juramentos para confirmar coisas sem importância ou mentiras, pois os juramentos não devem nos servir para prazer ou gozo íntimo e suave, mas para uma justa necessidade quando se trata de manter a glória do Senhor ou quando é necessário afirmar algo que serve para edificação.
                        E proíbe terminantemente que manchemos o mínimo possível seu santo e sagrado Nome; pelo contrário, temos que tomar este Nome com respeito e com toda dignidade, segundo sua santidade exige, tratando-se de um juramento que nós falemos, ou de qualquer coisa que nos propormos diante dEle.
                        E posto que o principal uso que devemos fazer deste Nome é invocá-lo, aprendemos que tipo de invocação é a que aqui nos é ordenada.
                        Finalmente se anuncia neste mandamento um castigo, com o fim de que, quem tenha profanado com injúrias e outras blasfêmias a santidade de seu Nome, não acreditem que poderão escapar de sua vingança.

                        QUARTO MANDAMENTO
                        “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás todo o teu trabalho; mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou; por isso o Senhor abençoou o dia do sábado, e o santificou[10] – Êx 20.8-11.
                        Vemos que tem anunciado este mandamento por três motivos:
                        Primeiro, porque o Senhor tem querido, por meio do repouso do sétimo dia, dar a entender ao povo de Israel o repouso espiritual no qual os fiéis devem abandonar suas próprios trabalhos para que o Senhor trabalhe neles.
                        Em segundo lugar, tem querido que exista um dia ordenado para que possa existir reunião, para que ali se escute sua Lei e que se possa tomar parte em seu culto.
                        Em terceiro lugar, tem querido que seus servos e os que trabalham para outros ou para si mesmos lhes fosse dado um dia de descanso para poderem descansar de seus trabalhos. No entanto, isto é uma conseqüência, melhor do que ser entendida como sendo uma razão principal.
                        Enquanto ao primeiro motivo, não existe dúvida alguma de que ele tenha terminado com Cristo: pois Ele é a Verdade com cuja presença desaparecem todas as figuras, e é o Corpo com cuja vinda se acabam todas as sombras. Pelo qual o apóstolo Paulo afirma que o sábado é “a sombra do porvir” (Cl 2.16). Mais ainda, declara a mesma verdade quando, no capítulo 6 da carta aos Romanos, nos ensina que temos sido sepultados com Cristo, a fim de que por sua morte morramos na corrupção de nossa carne (Rm 6.1-7); e isto não acontece em apenas um dia, mas ao longo de toda nossa vida até que, inteiramente mortos para nós mesmos, sejamos cheios da vida de Deus. Portanto, é preciso que esteja distante do cristianismo a observação supersticiosa dos dias.
                        Mas como os dois últimos motivos não podem ser contados entre as antigas sombras, mas são referências igualmente a todas as devidas épocas, apesar do sábado ter sido anulado, no entanto, vale entre nós que escolhamos alguns dias para escutarmos a Palavra de Deus, para partirmos o pão místico da Ceia e para orarmos publicamente. Pois somos tão fracos que é impossível reunir tais assembléias todos os dias. É necessário também que os servos e obreiros possam descansar de seu trabalho.
                        Por isso tem sido acabado o dia observado pelos judeus o qual era útil para se desfazer da superstição[11], e se tem destinado para esta prática outro dia o qual é necessário para se manter e conservar a ordem e a paz na Igreja.
                        Se, portanto, aos judeus foi dada a verdade em figura, a nós nos é revelado esta mesma verdade sem nenhuma sombra:
                        Primeiramente, para que consideremos toda nossa vida um “sábado”, ou seja, repouso contínuo de nossas obras, para que o Senhor trabalhe em nós por meio de seu Espírito.
                        Em segundo lugar, para que mantenhamos a ordem legítima da Igreja, com o fim de escutarmos a Palavra de Deus, receber os Sacramentos e orar publicamente.
                        Em terceiro lugar, para que não sobrecarreguemos com peso desumano a nós mesmos com o trabalho a que possamos estar sujeitos.

            SEGUNDA TÁBUA
                        QUINTO MANDAMENTO
                        “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR teu Deus te dá[12]” – Êx 20.12.      
                            Neste mandamento nos é ordenado respeitar a nossos pai e mãe, e aos que de maneira parecida exercem autoridade sobre nós, como os príncipes[13] e magistrados[14]. A saber, que lhes tributemos reverência, reconhecimento e obediência, e todos os serviços que nos sejam possíveis, pois é a vontade de Deus que correspondamos com todas estas coisas para quem nos trouxe a essa vida. E pouco importa que sejamos dignos ou indignos de receber esta honra, pois, sejam o que forem, o Senhor no-los tem dado por pai e mãe e tem querido que os honremos.
                        Mas temos que afirmar, diga-se de passagem, que somente nos é mandado obedecer-lhes em Deus.
                        Por isso não devemos, para agradar-lhes, quebrar a Lei do Senhor, pois se nos ordenam algo seja o que for, contra Deus, então não devemos considerá-los, neste ponto, como pai e mãe, mas como estranhos que querem nos separar da obediência a nosso verdadeiro Pai.
                        Este quinto mandamento é o primeiro que contém uma promessa, como disse o apóstolo Paulo no capítulo 6 na carta aos Efésios (Ef 6.2). Pelo motivo do Senhor prometer uma benção na vida presente aos filhos que tenham servido e honrado a seu pai e mãe, observando este mandamento tão conveniente, declara que tem preparada uma maldição certíssima para os que são rebeldes e desobedientes.
                       
                        SEXTO MANDAMENTO
                        “Não matarás[15] – Êx 20.13.
                        É-nos proibido aqui qualquer tipo de violência e afronta, e em geral toda ofensa que possa ferir o corpo do próximo, pois se nos lembramos que o homem foi feito à imagem de Deus, devemos considerá-los como santo e sagrado, de maneira que não podem ser violados sem violarmos também, neles, a imagem de Deus.

                        SÉTIMO MANDAMENTO
                        “Não adulterarás[16] – Êx 20.14.
                        O Senhor nos proíbe aqui qualquer tipo de luxuria (sensualidade) e impureza, pois o Senhor tem unido o homem e a mulher somente pela lei do casamento, e como esta união está selada com sua autoridade, Ele a santifica também com a sua bênção; consequentemente qualquer união que não seja a do casamento é maldita diante dEle.
                        É, portanto, necessário que quem não tem o dom da continência[17] – pois é um dom particular que não está na capacidade de todos – coloquem freios na intemperança[18] de sua carne com o honesto remédio do casamento, pois o casamento é honroso para todos; em troca Deus condenará aos fornicários e aos adúlteros (Hb 13.4). 

                        OITAVO MANDAMENTO
                        “Não furtarás[19] – Êx 20.15.
                        É-nos proibido aqui, de um modo geral, que nos apropriemos dos bens alheios, pois o Senhor quer que esteja distante de seu povo qualquer tipo de rapinas[20] por meio das quais são angustiados e oprimidos os fracos, e também toda sorte de enganos com os que vêem surpreendida a inocência dos humildes.
                        Se, pois, queremos conservar nossas mãos puras e limpas de furtos, é necessário que nos privemos tanto de rapinas violentas como de enganos e de espertezas. 

                        NONO MANDAMENTO
                        “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo[21]” – Êx 20.16.
                        O Senhor condena aqui todas as maldições e ofensas com as que se insulta a boa fama do nosso irmão, e todas as mentiras com o que, de qualquer forma que seja, se fere ao próximo.
                        Pois se a boa fama é mais preciosa do que qualquer tesouro, não recebemos menos dano ao sermos privados da integridade de nossa boa fama do que ao sê-los de nossos bens. Com freqüência se conseguem tirar os bens de um irmão com falsos testemunhos, tão perfeitamente como com a rapacidade[22] das mãos. Por isso nossa língua fique atada por causa deste mandamento, como o estão nossas mãos por causa do anterior.

                        DÉCIMO MANDAMENTO
                        “Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo[23]” – Êx 20.17.
                        Por este mandamento o Senhor põe como um freio em todos os desejos que ultrapassam os limites da caridade. Pois tudo o que os outros mandamentos proíbem cometer em forma de ato contra a regra do amor, este proíbe concebe-lo no coração.
                        Assim, este mandamento condena o ódio, a inveja, a malevolência,[24] do mesmo modo que antes o homicídio estava condenado. As práticas impuras e as manchas internas estão tão proibidas como a libertinagem [25]. De onde já estavam proibidos o engano e a rapacidade aqui o está a mesquinhez, de onde já se proibia a murmuração, aqui se reprime inclusivamente a malevolência.
                        Vemos, pois, quão igual é a intenção deste mandamento, e como se estende em todo o seu cumprimento, pois o Senhor exige que amemos a nossos irmãos com um maravilhoso e sumamente ardente afeto, e quer que não se veja perturbado pela mínima cobiça contra o bem e proveito do próximo.
                        Em resumo, este mandamento fala sobre, portanto, em que amemos ao próximo de tal modo que nenhuma cobiça contrária a lei do amor nos agrade, e que estejamos dispostos a dar de muita boa vontade a cada um o que lhe pertence. Mas, devemos considerar como pertencente a cada um o que pelo mesmo dever de nossa obrigação estamos obrigados a dar-lhe[26].    
           
            2 O RESUMO DA LEI
            Nosso Senhor Jesus Cristo nos tem declarado suficientemente aonde se encontram todos os mandamentos da Lei, ao ensinar-nos que toda a Lei está compreendida em dois capítulos.
            O primeiro, que amemos ao Senhor, nosso Deus, com todo o nosso coração, com toda nossa alma e com todas as nossas forças.
            O segundo, que amemos a nosso próximo como a nós mesmos.
            E esta interpretação tem sido tomada da mesma Lei, pois a primeira parte está no capítulo 6 de Deuteronômio (Dt 6.5) e a segunda a encontramos no capítulo 19 de Levíticos (Lv 19.18)[27].
           
            3 O QUE UNICAMENTE SE TIRA DA LEI
            Eis aqui o mandamento de uma vida santa e justa, e inclusivamente uma imagem perfeitíssima da justiça, de maneira que se alguém cumpre em sua vida a lei de Deus, a este nada do que se requer para a perfeição lhe faltará diante do Senhor.
            Para confirmar isto, Deus promete a quem tenha cumprido sua Lei, não somente aquelas grandes bênçãos da vida presente que são faladas no capítulo 26 do Levítico (Lv 26.3-13) no capítulo 28 do Deuteronômio (Dt 28.1-14), mas também a recompensa da vida eterna (Lv 15.15).
            Por outro lado, Deus anuncia a vingança de uma morte eterna contra todos os que não tenham cumprido com suas ações tudo o que está ordenado nesta Lei (Dt 28.15-68). Inclusive Moisés, tendo proclamado a Lei, toma como testemunha o céu e a terra de que acaba de propor ao povo o bem e o mal, a vida e a morte (Dt 30.19-20).
            Mas, ainda que a Lei assinale o caminho da vida, naturalmente devemos ver de que modo podemos aproveitá-la. Se nossa vontade estiver conformada e submetida a obediência da vontade de Deus, certamente que o mero conhecimento da Lei bastaria para nossa salvação. Mas, como nossa natureza carnal e corrompida luta em tudo e sempre contra a Lei espiritual de Deus, e não tem sido corrigida nem minimamente com o ensino desta Lei, resulta que esta mesma Lei que havia sido dada, de haver encontrado ouvintes bons e capazes para a salvação, se converte em ocasião de pecado e de morte. Mas, como estamos todos convencidos de ser transgressores da Lei, quanto mais claramente esta Lei nos manifesta a justiça de Deus, com tanta mais claridade nos descobre, por outro lado, nossa justiça.
            Consequentemente, quando maior seja a transgressão que nos surpreenda, tanto mais severa será o juízo de Deus diante do que ela nos faz culpáveis, e, uma vez suprimida a promessa de vida eterna, não nos resta senão a maldição que corresponde a todos nós pela Lei.
           
            4 A LEI É UMA ETAPA PARA SE CHEGAR A CRISTO
            Se a injustiça e transgressão de todos nós estão demonstradas pelo testemunho da Lei, não o é com o fim de que caiamos no desespero, e de que, perdido todo o ânimo, nos afundemos na ruína.
            O apóstolo disse que todos estão condenados pelo juízo da Lei, para que toda boca se feche e todo o mundo permaneça sob o juízo de Deus (Rm 3.19). Naturalmente o mesmo ensina em outra parte que Deus limitou[28] a todos em incredulidade não para perdê-los ou para deixá-los perecer, mas para ter misericórdia de todos (Rm 11.32).
            Assim, pois, o Senhor, depois de nos haver prevenido por meio da Lei, de nossa debilidade e de nossa impureza, nos consola com a confiança em seu poder e em sua misericórdia, e isto em Cristo, seu Filho, pelo qual Ele se auto revela a nós como bondoso e favorável.
            Pois se bem que na Lei, Deus não aparece mais do que como o remunerador [29] de uma perfeita justiça – de que estamos totalmente privados -, e por outra parte como o Juiz íntegro e severo dos pecados; em Cristo, pelo contrário, seu rosto resplandece pleno de graça e de doçura, e isto para com os miseráveis e indignos pecadores, pois nos tem dado este exemplo admirável de seu amor infinito, entregando por nós o seu próprio Filho, e nos tem aberto, nEle todos os tesouros de sua disposição para perdoar e de sua bondade.

BREVE INSTRUÇÃO CRISTÃ
            3ª PARTE – DA FÉ
           
            1 POSSUIMOS A CRISTO PELA FÉ[30]  
            O Pai misericordioso nos oferece seu Filho pela Palavra do Evangelho e pela fé nós o abraçamos e o reconhecemos como dom de Deus para nós.
            É verdade que a Palavra do Evangelho chama a todos os homens para que participem de Cristo, mas muitos, cegados e endurecidos pela incredulidade desprezam esta graça tão extraordinária. Apenas os fiéis gozam, pois, de Cristo; somente os fiéis o recebem como enviado a eles. Não rejeitam aquele que os tem sido dado; seguem aquele que os tem chamado.

            2 DA ELEIÇÃO E DA PREDESTINAÇÃO
            Pela distinção anterior, temos necessariamente que considerar o grande segredo do conselho de Deus, pois a semente da Palavra de Deus fixa raízes e frutifica unicamente naqueles que o Senhor, por sua eterna eleição, tem predestinado para ser seus filhos e os herdeiros do Reino celestial.
            Para todos os demais, que, pelo mesmo conselho de Deus, antes da constituição do mundo, têm sido reprovados, a clara e evidente pregação da Verdade não pode ser senão um odor de morte que conduz para a morte.
            Mas, a razão de que o Senhor seja misericordioso com uns e exerça o rigor de seu juízo contra os outros, somente Ele a conhece, já que tem querido ocultá-la de todos, e isto por motivos muito justos, pois nem a dureza de nosso espírito poderia suportar tão grande claridade, nem nossa pequenez poderia compreender tão grande sabedoria.           
            De fato, todos os que pretendem chegar até ali e não queiram abafar a temeridade de seu espírito, experimentarão a verdade de que disse Salomão: quem pretender investigar a Majestade de Deus, será aniquilado por sua glória (Pv 25.2; tradução distinta de nossas Bíblias modernas).
            Basta-nos pensar em nosso interior que este “tempo” do Senhor, ainda que oculto a nós, é naturalmente santo e justo, pois se Deus quisesse se desfazer de todo o gênero humano, teria o direito de fazê-lo; e nós que separa da perdição, podemos somente admirar sua soberana bondade.
            Reconheçamos, pois, que os eleitos são os vasos de sua misericórdia – fica bem que assim seja! – e que os reprovados são os vasos de sua cólera, a qual é, portanto, justa (Rm 9.22-23). De uns e de outros tomemos motivo e argumento para exaltar sua glória.
            Além do mais não pretendamos – como se passa em muitos -, para confirmar a certeza de nossa salvação, penetrar no céu e investigar o que Deus, desde sua eternidade, tem decidido fazer de nós, pois esta pesquisa não servirá senão para nos agitar angustiosamente e nos perturbar miseravelmente. Nos contentemos, pelo contrário, com o testemunho por meio do qual Ele nos tem confirmado suficiente e ampliadamente esta certeza, pois já que em Cristo são escolhidos todos os que tem sido pré-ordenados para a vida, ainda antes de haverem sido estabelecidos os fundamentos do mundo, em Cristo também nos tem sido apresentada a segurança de nossa eleição, se é que a recebemos e lhe abraçamos pela fé.
            E o que buscamos na eleição senão ser participantes da vida eterna? E nós temos esta vida em Cristo, que era a Vida desde o começo e que nos é proposto como Vida para que todos os que crêem nEle não pereçam mas que tenham a vida eterna (Jo 3.16).
            Se, no entanto, possuindo a Cristo pela fé, possuímos também a vida nEle, não temos porque investigar demoradamente o conselho eterno de Deus, pois Cristo não é tão somente um espelho no que nos é apresentada a vontade de Deus, mas um selo pelo qual essa vontade de Deus nos é selada e confirmada.
           
            3 O QUE É A VERDADEIRA FÉ?
            Não se deve pensar que a fé Cristã é um puro e simples conhecimento de Deus, ou uma compreensão da Escritura que mexe no cérebro sem tocar o coração. Tal é de ordinário, a opinião que temos das coisas que nos são confirmadas por alguma razão humana.       
            Mas a fé cristã é uma firme e sólida confiança do coração, pelo que descansamos com segurança na misericórdia de Deus que nos tem sido prometida pelo Evangelho.
            Assim a definição da fé deve ser tomada (plena) da substância (certeza) da promessa. E a fé se apóia tão perfeitamente neste fundamento que, se o tirarmos a fé imediatamente cairá, ou, melhor dizendo, desapareceria.
            Por isso, quando o Senhor, pela promessa evangélica nos apresenta sua misericórdia, e nós com certeza e sem vacilação alguma confiamos nAquele que faz a promessa, então possuímos sua Palavra pela fé.
            E esta definição não é senão a do autor da carta aos hebreus, que nos ensina que a fé é a substância/certeza das coisas que se esperam a demonstração das coisas que não podem ser vistas (Hb 11.1). O autor da carta entende por estas palavras uma possessão segura e certa das coisas que Deus tem prometido, e uma evidência das coisas que não podem ser vistas, ou seja, da vida eterna que esperamos a causa de nossa confiança nesta bondade divina que nos é oferecida pelo Evangelho.
            Mas, pelo motivo de que todas as promessas de Deus tem sido confirmadas e, por assim dizer, cumpridas e realizadas em Cristo, é claro que Cristo é, sem sombra de dúvida, o objeto perfeito da fé, e que esta contempla nEle todas as riquezas da misericórdia divina.

            4 A FÉ É UM DOM DE DEUS                
            Se considerarmos honestamente em nosso interior até que ponto é cego nosso pensamento diante dos segredos celestes de Deus, e até que ponto é nosso coração infiel em tudo, não duvidaremos que a fé ultrapasse infinitamente a todo o poder de nossa natureza, e que é um dom extraordinário e precioso de Deus; como disse o apóstolo Paulo: “Quem dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem que está nele? Assim muito menos nada conheceu das coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” (1Co 2.11). Se a verdade de Deus vacila em nós, inclusive se tratando de coisas que nosso olho vê como haverá de ser firme e estável quando o Senhor promete coisas que nem nosso olho vê nem nossa inteligência compreende?
            Vemos, portanto, que a fé é uma iluminação do Espírito Santo, que esclarece nossas inteligências e fortalece nossos corações. Ela nos convence com certeza e nos dá a segurança de que a verdade de Deus é de tal modo certa, que Deus cumprirá tudo o que em sua santa Palavra prometeu que Ele faria.
            Eis aqui porque ao Espírito Santo é encarregado como sendo as garantias que confirmam em nossos corações a certeza da verdade divina, e como um selo que tem selado nossos corações na espera do dia do Senhor (2Co 1.22; Ef 1.13). O Espírito Santo dá testemunho ao nosso espírito de que Deus é nosso Pai e nós seus filhos (Rm 8.15-16).

            5 SOMOS JUSTIFICADOS EM CRISTO PELA FÉ[31]
            Sendo Cristo o objeto permanente da fé, não podemos saber o que recebemos pela fé senão olhando para Ele. Mas, O Pai já nos tem dado para que tenhamos nEle a vida eterna. Jesus disse: “Esta é a vida eterna: que conheçamos somente o Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, ao qual tens enviado” (Jo 17.3); e também: “O que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11.25).
            Naturalmente, para que isto se cumpra, é necessário que sejamos purificados nEle, já que estamos manchados pelo pecado, e nada impuro entrará no Reino de Deus; pelo que necessitamos participar nEle, para que nós, que somos pecadores em nós mesmos, sejamos por sua justiça achados justos diante do trono de Deus, e deste modo, sem nossa justiça própria, somos revestidos da justiça de Cristo e, sendo injustos por nossas obras, somos justificados pela fidelidade de Cristo.
            Pois se diz que somos justificados pela fé, não porque recebamos em nosso interior alguma justiça, mas porque nos é atribuída à justiça de Cristo, como se fosse nossa, enquanto que não nos é transferida nossa própria injustiça. De tal maneira que é possível, resumindo em uma palavra, chamar esta justiça de a remissão[32] dos pecados. Isto é o que o apóstolo Paulo declara expressamente comparando com freqüência a justiça das obras com a justiça da fé, e ensinando que uma destrói a outra (Rm 10.3-8; Fp 3.9).
            Estudando o símbolo dos apóstolos – que indica por sua ordem todas as realidades sobre as que estão fundada e a nossa fé se apóia – veremos como Cristo nos tem merecido esta justiça e em que consiste a mesma. 

            6 SOMOS SANTIFICADOS PELA FÉ PARA OBEDECER A LEI[33]
            Da mesma forma que Cristo intercede por nós diante do Pai por sua justiça, para que sejamos declarados justos, sendo Ele nosso advogado, assim fazendo-nos também participar de seu Espírito nos santifica para fazer-nos puros e inocentes, pois o Espírito do Senhor repousou sobre Ele sem medida – o Espírito da sabedoria, de inteligência, de conselho, de fortaleza de ciência e de temor do Senhor -, para que todos tomemos de sua plenitude e recebamos graça sobre graça que o foi dado (Jo 1.16).
            Os que, pois, se gloriam da fé cristã, enquanto estão inteiramente privados da santificação de seu Espírito, enganam a si mesmos, pois a Escritura ensina que Cristo foi feito para nós não somente justiça, mas também santificação. Conseqüentemente não podemos receber pela fé sua justiça sem abraçar também esta santificação. O Senhor, por esta aliança que tem pactuado conosco em Cristo, promete assim que fará a expiação[34] de nossos pecados e que escreverá sua Lei em nossos corações (Jr 31. 31-34; Hb 8. 6-12 e 10-11 e ss).
            A obediência a Lei não está em nosso poder, mas, depende do poder do Espírito que limpa nossos corações de sua corrupção e os amolece para que obedeçam à justiça. O progresso do uso da Lei é, para os cristãos, absolutamente impossível fora da fé. O ensinamento externo da Lei não fazia antes senão nos acusar de debilidade e de transgressão. Mas, desde que o Senhor tem gravado em nossos corações o amor a sua justiça, a Lei é uma lâmpada para guiar nossos passos pelo reto caminho; ela é a sabedoria que nos forma, nos ensina e nos dá ânimo para sermos íntegros; é nossa regra, e não resiste ser destruída por uma falsa liberdade.

            7 DO ARREPENDIMENTO E DO NOVO NASCIMENTO
            Agora nos é fácil compreender porque o arrependimento está sempre unido à fé cristã, e porque o Senhor afirma que ninguém pode entrar no Reino dos céus sem haver nascido outra vez (Jo3.3).
            O arrependimento é esta conversão pela que, abandonando a perversidade deste mundo, voltemos ao caminho do SENHOR; e como Cristo não é ministro[35] do pecado, nos purifica das manchas do pecado, e nos reveste da participação em sua justiça; mas, não para que desonremos em seguida uma tão grande graça com novas faltas, mas para que consagremos o futuro de nossa vida para a glória do Pai que nos tem adotado por seus filhos.
            A realização deste arrependimento depende de nosso novo nascimento e contém duas partes: a mortificação de nossa carne (ou seja, da corrupção que está enraizada em nós[36]), e a vivificação espiritual pela qual a natureza humana é restaurada em sua integridade.
            O sentido de nossa vida está em que, mortos ao pecado e a nós mesmos, vivamos para Cristo e para sua justiça. E como este renascimento não termina enquanto estivermos aprisionados neste corpo de morte, é necessário que a preocupação de nosso arrependimento dure até nossa morte.

            8 RELAÇÃO ENTRE A JUSTIÇA DAS OBRAS E A JUSTIÇA DA FÉ
            Não há dúvida de que as obras boas que resultam de uma consciência purificada sejam agradáveis a Deus: ao reconhecer em nós Sua própria justiça, não pode fazer menos do que aprová-la e estimá-la[37].
            Simplesmente, devemos procurar cuidadosamente não nos deixarmos arrastar por uma confiança sem valor nas boas obras de tal modo que venhamos esquecer a justificação pela fé somente em Cristo, pois a única justificação das obras que existe diante de Deus é a correspondente a sua justiça. Para quem quiser ser justificado pelas obras não lhe basta, conseqüentemente, fazer algumas obras boas, mas que é necessário se mostrar uma obediência perfeita a Lei. E ainda que alguns se encontrem mais adiantados do que outros na Lei do Senhor, estão, no entanto, distante desta obediência perfeita.
            Mais ainda: se por acaso a justiça de Deus quisesse se contentar com só uma obra boa, o SENHOR não encontraria em seus santos só essa obra boa merecedora de chegar a receber um elogio como se fosse justa, pois, por mais estranho que pareça, é absolutamente certo que nem uma só obra procede de nós com perfeição absoluta e sem estar ensombrecida com alguma mancha.
            Eis aqui porque, sendo todos pecadores e estando manchados com inumeráveis marcas do pecado, temos que ser justificados desde fora. Sempre, portanto, temos necessidade de Cristo para que sua perfeição cubra nossa imperfeição, para que sua pureza lave nossas manchas, para que sua obediência limpe nossa injustiça, para que, finalmente, sua justiça nos seja gratuitamente transferida, sem consideração alguma para com as nossas obras, cujo valor não pode subsistir diante do juízo de Deus.   
            Mas quando nossas manchas – que de outro modo conta – minam nossas obras diante de Deus – são cobertas deste modo, o SENHOR não vê em nossas obras mais do que uma absoluta pureza e santidade; por isso as honra com grandes títulos e elogios. As chama justas e as tem por tais. Promete-lhes uma recompensa imensa.
            Em resumo, temos que concluir que a comunhão com Cristo tem tal valor que precisamente por ela, não somente somos justificados gratuitamente, mas que, conquanto, nossas obras são tidas por justas e recompensadas com uma remuneração eterna.

            9 O SÍMBOLO DA FÉ[38]
            Acabamos de expor o que conseguimos em Cristo pela fé. Escutemos agora o que nossa fé deve olhar e considerar em Cristo para se tornar firme. Isto está desenvolvido no Símbolo (como é chamado), no que vemos como Cristo foi feito para nós, pelo Pai, sabedoria, redenção, vida, justiça e santificação.
            Pouco importa o autor ou autores que criaram este resumo da fé, simplesmente por não ter nenhum ensino humano, mas que vem dos testemunhos firmíssimos da Escritura. Mas com o fim de que nossa confissão de fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo não perturbe a ninguém, primeiro falemos um pouco dela.       
            Quando nomeamos ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, não imaginamos três deuses, mas que as Escrituras e a experiência da devoção nos mostram no Ser único de Deus, ao Pai, a seu Filho e a seu Espírito, de maneira que nossa inteligência não pode compreender ao Pai sem compreender igualmente ao Filho no qual brilha sua viva imagem, e ao Espírito no qual aparece seu poder e sua força.
            Detenhamos-nos, portanto, e fixemos todo o pensamento de nosso coração em um só Deus, e sem impedimento contemplemos ao Pai com o Filho e seu Espírito.

                        Primeiro Artigo - De Deus Pai ou da Criação[39]: Creio em Deus, Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra[40]
                        Estas palavras não somente nos ensinam a crer que Deus existe, mas também e sobretudo, a reconhecer que é nosso Deus, e a ter por certo que fazemos parte daqueles a quem Ele promete que será seu Deus e que tem recebido como seu povo. A Ele lhe é dado todo poder: dirige tudo com sua providência, o governa com sua vontade e o conduz com sua força e com o poder de sua mão.
                        Dizer “criador do céu e da terra”, significa que cuida, sustenta e vivifica perpetuamente tudo o que criou uma vez.
           
                        Segundo Artigo - De Deus Filho ou da Redenção (Salvação – Do Segundo ao Sétimo Artigo): Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor.
                        O que temos ensinado acima, a saber, que Cristo é o objeto mesmo de nossa fé, aparece claramente nestas palavras que descrevem nEle todos os aspectos de nossa salvação. O chamamos Jesus, título com que o honrou uma revelação celestial, pois tem sido enviado para salvar aos sujos de seus pecados. Por esta razão a Escritura afirma que “não há outro nome debaixo do céu, dado aos homens, em que possamos ser salvos” (At 4.12).
                        O título de Cristo significa que tem recebido com plenitude a unção de todas as graças do Espírito Santo (simbolizados na Escritura pelo óleo), sem as quais caímos como folhas secas e sem vida. Esta unção o consagrou:
            Primeiro como Rei, no nome do Pai, para ter todo poder no céu e na terra, a fim de que nós fossemos reis por causa dEle, com domínio sobre o Diabo, o pecado, a morte e o inferno.
                        Em segundo lugar como Sacerdote, para nos dar a paz e reconciliação com o Pai por meio de seu sacrifício, a fim de que fossemos sacerdote por Ele, oferecendo ao Pai nossas orações, nossas ações de graças, nós mesmos e tudo o que nos pertence, já que é nosso intercessor e nosso mediador.
                        Além do mais, é chamado Filho de Deus, não como os fiéis que o são somente por adoção e por graça, mas como verdadeiro e legítimo Filho que o é, e conseqüentemente o único, em contraposição a nós.
                        Ele é nosso Senhor, não somente por causa de sua divindade que é desde toda a eternidade uma só com o Pai, mas também segundo esta carne criada na que nos tem sido revelado.
                        Como disse o apóstolo Paulo: “todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele” (1Co 8.6).

                        TERCEIRO ARTIGO - O qual foi concebido do Espírito Santo e nasceu dA virgem MARIA[41]                       
                        Aqui nos é lembrado como o Filho de Deus se fez para nós Jesus – que quer dizer Salvador – e Cristo – ou seja, Ungido, como Rei para nos guardar e como Sacerdote para nos reconciliar com o Pai.
                        Tomou nossa carne para, uma vez feito Filho do homem, conseguiu nos fazer, com Ele, filhos de Deus. Revestiu-se de nossa pobreza para nos encher de suas riquezas. Tomou nossa debilidade para nos fortalecer com sua força. Revestiu-se de nossa condição mortal para nos dar sua imortalidade. Desceu a terra para nos elevar ao céu.
                        Nasceu da Virgem Maria para ser reconhecido como o verdadeiro filho de Abraão e de Davi, prometido pela Lei e os profetas, e como verdadeiro homem, semelhante em tudo a nós, mas sem pecado. Foi tentado segundo todas as nossas debilidades, aprendendo deste modo a ter compaixão de nós. Foi concebido naturalmente no seio da Virgem pelo poder maravilhoso e inefável[42] do Espírito Santo; no entanto, nasceu sem ter sido manchado por nenhuma corrupção carnal, antes, pelo contrário, santificado com uma pureza excelente.

                        Quarto Artigo – creio que Sofreu sob Pôncio Pilatos; foi crucificado, morto e sepultado; desceu aos infernos[43]
                        Estas palavras nos ensinam como realizou nossa redenção para a qual havia nascido como homem mortal. Ele limpou a desobediência do homem, que provocava a cólera de Deus, por meio de sua obediência, fazendo-se obediente ao Pai até a morte. Ofereceu-se em sacrifício ao Pai por meio de sua morte, para que fosse aplacada a justiça do Pai de uma vez para sempre, para que todos os fiéis fossem santificados eternamente, para que se cumprisse a eterna satisfação. Derramou se Sangue sagrado como preço de nossa redenção para apagar a cólera de Deus, acendida contra nós, e para purificar-nos de nossas iniqüidades.
                        Nada existe nesta remissão sem mistério.
                        Padeceu sob Poncio-Pilatos, cuja sentença o condenou como criminoso e malfeitor, para nós sermos liberados desta condenação e absolvidos diante do tribunal do grande Juiz.
                        Foi crucificado para suportar na cruz – que estava maldita segundo a Lei de Deus – a maldição que nossos pecados mereciam.
                        Morreu para vencer com sua morte a morte que nos ameaçava, e para destruí-la, sem a qual ela mesma nos haveria destruído e tragado.
                        Foi sepultado para sermos unidos a Ele pelo efeito de sua morte, sepultado com nosso pecado para sermos livrados do poder do Diabo e da morte.
                        E se é dito que desceu aos infernos, isso significa que foi ferido por Deus e que suportou e experimentou o horrível rigor do juízo de Deus, se colocando entre a cólera de Deus e nós, e satisfazendo por nós a justiça de Deus. Deste modo sofreu e suportou o castigo que merecia nossa injustiça, sendo assim que não havia nEle nem sombra de pecado. Não que nunca tenha o Pai estado irritado contra Ele: como poderia haver se indignado contra seu Filho bem amado, em quem colocava todo seu agrado? Por outro lado, como o Filho haveria podido aplacar ao Pai com sua intercessão, se o havia irritado? Antes pelo contrário, Ele elevou o peso da cólera de Deus no sentido de que, ferido e humilhado pela mão de Deus, sentiu em si todos os sinais da cólera e da vingança de Deus, até que se viu obrigado a gritar em sua angustia: “Deus meu, Deus meu, por que tens me desamparado?” (Mt 27.46).
                       
                        Quinto Sexto e Sétimo Artigos – creio que Ressuscitou dos mortos ao terceiro dia; Subiu aos céus, onde se senta à direita de Deus Pai Todo-poderoso, De onde virá julgar os vivos e os mortos.
                        Por sua ressurreição temos a firme segurança de conseguir a vitória sobre o domínio da morte. Com efeito, não posso ser detido das cadeias da morte, mas Ele se livrou delas com todo seu poder, destruindo assim as armas da morte, para que nunca jamais pudesse nos alcançar mortalmente.
                        Sua ressurreição é, pois, a verdade segura, a substância e fundamento, não somente de nossa ressurreição futura, mas também desta ressurreição presente que nos permite viver uma nova vida.
                        Com sua ascensão ao céu, nos tem aberto esta porta do Reino dos céus que está fechada para todos por causa de Adão. Com efeito, Ele entrou no céu com nossa natureza humana como em nosso nome, de modo que já possuímos nEle o céu pela esperança, e nos sentamos com Ele em lugares celestiais. Por nosso bem Ele entrou no santuário de Deus, que não foi feito por mão de homem, para ser perpetuamente, segundo o seu ofício de Sacerdote eterno, nosso advogado e nosso mediador.
                        Está sentado a direita de Deus Pai. Isto quer dizer em primeiro lugar, que foi estabelecido e declarado Rei, Mestre e Senhor de todas as coisas para nos proteger e nos amparar com seu poder, de sorte que seu reino e sua glória sejam nossa força, nosso poder e nossa glória contra os infernos.
                        Em segundo lugar, isto quer dizer que tem recebido todas as graças do Espírito Santo para dispensá-las a seus fiéis e lhes enriquecer com elas. Deste modo, ainda que seu corpo tenha subido ao céu e por isso já não está presente para nossos olhos, naturalmente não cessa de ajudar a seus fiéis com seu socorro e o poder manifesto de sua presença, segundo a promessa: “ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.20). Afirma, finalmente, que o último dia, visivelmente, como foi visto subir, aparecerá diante de todos na majestade incompreensível de seu Reino para julgar aos vivos e aos mortos (ou seja, aos que naquele dia os surpreenderá em vida, e aos que, então, já estarão mortos), dando a cada um segundo as suas obras, segundo o que cada um, por suas obras tenha se mostrado fiel ou infiel. Para nós é um consolo extraordinário saber que o juízo está posto nas mãos daquele cuja vinda terá por única finalidade nos salvar.

                        Oitavo Artigo - De Deus Espírito Santo e da Igreja ou da Santificação (Santificação: Do Oitavo ao Décimo Segundo Artigo): Creio no Espírito Santo[44]
                        Sermos ensinados a crer no Espírito Santo, quer dizer que somos mandados a esperar nEle todos os bens que nos tenham sido prometidos na Escritura.
                        Tudo o que existe de bom, seja aonde for, Jesus Cristo o faz pelo poder de seu Espírito. Por Ele cria, sustenta, conversa e vivifica todas as coisas. Por Ele nos justifica, santifica, purifica, chama, e atrai em direção a si, para que tenhamos a salvação.
                        Por isso o Espírito Santo, quando habita deste modo em nós, é quem nos ilumina com sua luz para que aprendamos e tenhamos perfeitamente as infinitas riquezas que, pela divina bondade, possuímos em Cristo. O Espírito Santo é quem inflama nossos corações com o fogo de um ardente amor a Deus e ao próximo. É Ele quem, a cada dia e cada vez mais, mortifica e destrói os vícios de nossa cobiça, de maneira que se existe em nós algumas boas obras, são frutos e efeitos de sua graça. Sem Ele não haveria mais do que trevas em nossa inteligência e perversidade em nossos corações.

                        Nono Artigo - creio Na santa Igreja cristã católica[45], a comunhão dos santos
                        Já temos visto a fonte de onde sai a Igreja na que se propõe aqui crer para se estar seguros de que todos os eleitos estão unidos, pelos laços da fé, em uma Igreja, em uma comunidade, em um povo de Deus, cujo guia, príncipe e chefe deste como corpo único é Jesus, nosso Senhor, pois os crentes têm sido escolhidos em Cristo antes da criação do mundo para estarem todos unidos no Reino de Deus.
                        Esta sociedade é católica, quer dizer universal, pois não há duas ou três. Todos os eleitos de Deus estão juntos e unidos em Cristo, de tal modo que dependem de um só Chefe, crêem em um só corpo e estão unidos uns aos outros por uma disposição parecida a dos membros de um mesmo corpo. Tem-se feito com toda verdade um, porque, tendo uma mesma fé, uma mesma esperança, um mesmo amor, vivem de um mesmo Espírito de Deus, e estão chamados a uma mesma herança: a vida eterna.
                        Esta sociedade é, aliás, santa, pois todos os que são eleitos pela providência eterna de Deus para serem escolhidos como membros da Igreja, são santificados pelo Senhor e regenerados espiritualmente.
                        As palavras comunhão dos santos explicam, no entanto mais claramente o que é a Igreja: a comunhão dos fiéis quer dizer que, quando um deles tem recebido de Deus algum dom, todos participam dele, se bem que, pela dispensação de Deus, este dom tem sido dado a um deles em particular, do mesmo modo que os membros de um mesmo corpo, dentro de sua unidade, participam entre si de tudo o que tem, ainda que cada um tenha seus dons particulares e sejam diversas as suas funções. Pois, se repetirá: todos os escolhidos estão juntos e reunidos em um só corpo.
                        Cremos que a Igreja é santa e também é a sua comunhão, de tal sorte que com a garantia de uma firme fé em Cristo temos a certeza de ser membros dela.

                        Décimo Artigo - creio Na remissão (perdão) dos pecados[46]
                        Nossa salvação descansa e se sustenta sobre o fundamento da remissão dos pecados. Esta remissão é em efeito a porta para nos aproximarmo-nos de Deus, e o meio que nos retém e nos guarda em seu Reino.
                        Toda a justiça dos fiéis se resume na remissão dos pecados. Pois esta justiça não é obtida por mérito algum, mas somente pela misericórdia do SENHOR.
                        Oprimidos, afligidos, e confundidos pela consciência de seus pecados, os fiéis se sentem humilhados pelo sentimento do juízo de Deus, se sentem com desgosto, gemem e trabalham como se estivessem sob uma pesada carga e, por este ódio ao pecado e esta confusão, mortificam sua carne e tudo o que vem somente dela mesmo.            
                        Para se ter gratuitamente a remissão dos pecados, Cristo mesmo a tem comprado pagando-a ao preço de seu próprio sangue. Somente neste sangue devemos buscar a purificação de nossos pecados e sua reparação.
                        Ensina-nos, portanto, a crer que a generosidade de Deus e o mérito da intercessão de Jesus Cristo nos tem sido dado, que temos sido chamados e injetados no corpo da Igreja, a remissão dos pecados e a graça.
                        Em nenhuma outra parte nem por nenhum outro meio nos tem sido dada à remissão dos pecados, pois fora desta Igreja e desta comunhão dos santos não existe salvação.

                        Décimo Primeiro e Décimo Segundo Artigos – creio Na ressurreição da carne, E na vida eterna. Amém.
                        Em primeiro lugar nos é ensinado aqui a esperarmos a ressurreição futura. Em virtude do mesmo poder com que ressuscitou a seu Filho dentre os mortos, o SENHOR chamará a uma nova vida, fora do pó e da corrupção, e também para a carne dos que morreram anteriormente ao dia do grande Juízo. Os que se encontram então com vida, passarão para a nova vida por uma transformação repentina, melhor do que pela forma ordinária da morte.            
                        As palavras vida eterna são afirmadas para distinguir o estado dos bons do estado dos maus. A ressurreição, com efeito, será comum para uns e outros, mas conduzirá a estados diferentes. Nossa ressurreição será tal que, uma vez ressuscitados da corrupção para a incorrupção da morte para a vida, e glorificados em nosso corpo e em nossa alma, o Senhor nos receberá na eterna bem aventurança, sem possibilidade alguma de alteração e de corrupção.
                        Teremos uma verdadeira e completa perfeição de vida, de luz e de justiça, já que estaremos unidos inseparavelmente ao SENHOR, que contém precisamente em si, como fonte que não pode se esgotar, toda a plenitude.
                        Esta bem-aventurança será o Reino de Deus; esse Reino pleno de luz, de alegria, de felicidade e de plenitude. Estas realidades estão agora muito longe do conhecimento dos homens, e as vemos tão somente como em um espelho e de uma maneira confusa, até que chegue o dia em que o Senhor nos permitirá ver sua glória face a face.
                        Do contrário, os reprovados e os maus que não buscaram nem honraram a Deus com uma fé viva e verdadeira, não terão parte em Deus nem em seu Reino. Serão lançados na morte eterna e para a corrupção que não se acaba, com todos os demônios. E, distantes de toda alegria, de toda plenitude e de todos os demais bens do Reino celestial, condenados as trevas perpétuas e a sofrimentos eternos, se verão comidos por um verme que nunca morrerá e queimados por um fogo que nunca se apagará.

            10 O QUE É A ESPERANÇA[47]?
            Se a fé (tal como a temos entendido) é uma convicção certa da verdade de Deus, a qual não pode mentir nem nos enganar, nem pode ser vã ou falsa, quem tem esta certeza espera com uma mesma segurança a realização por Deus de suas promessas. Para eles estas promessas não podem ser menos do que verdadeiras.
            Deste modo a esperança não é senão a firme esperança das coisas que a fé crê que tem sido prometidas por Deus com toda verdade.
            A fé crê que Deus é verdadeiro; a esperança espera que Ele manifeste sua verdade no tempo certo.
            A fé crê que Deus é nosso Pai; a esperança conta que se comportará sempre conosco como somos.
            A fé crê que a vida eterna já nos foi dada; a esperança espera o dia em que essa vida eterna será revelada.
            A fé é o fundamento sobre o que descansa a esperança; a esperança alimenta e sustenta a fé.
            E do mesmo modo que ninguém pode aguardar nem esperar nada de Deus sem antes crer em suas promessas, assim também é necessário que a debilidade de nossa fé, a qual não deve enfraquecer, seja sustentada e conservada por uma esperança e uma espera perseverantes.

BREVE INSTRUÇÃO CRISTÃ
4ª PARTE – DA ORAÇÃO
           
            1 NECESSIDADE DA ORAÇÃO
            Aquele que tem sido devidamente ensinado na verdadeira fé percebe, por um lado, sua extrema pobreza, carência de bens espirituais e de sua incapacidade total para se salvar. Daí que para encontrar ajuda e sair de sua miséria busque auxílio fora de si mesmo.
            Por outro lado, contempla ao SENHOR – quem generosamente e de boa vontade se oferece em Jesus Cristo, e nEle lhe abre todos os tesouros celestiais -, afim de que sua fé se centre no Filho bem-amado e nEle repouse e coloque raízes em toda sua esperança.
            É, pois, necessário que o homem se volte a Deus para lhe pedir, por meio da oração, aquilo que só Ele possui.
            De não invocar e orar a Deus – quando sabemos que Ele é o Senhor, de quem todos os bens provem, e que Ele mesmo nos convida a que o peçamos tudo quanto necessitamos -, viríamos a ser como aquele que, sabendo onde há um tesouro enterrado, por insensatez e para poupar-se do trabalho de desenterrá-lo, o deixará ali esquecido.

            2 SENTIDO DA ORAÇÃO
            Pelo fato de que a oração é uma espécie de comunicação ente Deus e nós, pelo que o expomos nossos desejos, nossas alegrias e nossas queixas – em resumo: todas as inclinações de nosso coração -, devemos procurar, cada vez que invocamos ao Senhor humilhamo-nos no mais profundo de nosso coração, para nos dirigir a Ele desde essa profundidade e não tão somente desde a boca ou desde a garganta.
            É certo que a língua serve para a oração e faz com que o espírito esteja mais atento ao pensamento de Deus, e exatamente porque está chamada a exaltar a glória de Deus; este membro do corpo tem de estar ocupado, justamente com o coração, em meditar na bondade de Deus. Mas não se esqueça muito menos que por boca do profeta, o Senhor tem pronunciado castigo sobre todos aqueles que o honram com os seus lábios, mas cujo coração e vontade estão distantes dEles (Is 29.13; Mt 15.8).
            Se a verdadeira oração deve ser um simples movimento de nosso coração em direção a Deus, é necessário que afastemos de nós qualquer pensamento sobre nossa própria glória, qualquer idéia de dignidade e a mínima confiança em nós mesmos. Por isso o profeta nos exorta a orar, não pela nossa justiça, mas segundo a imensa misericórdia do Senhor, para que nos escute pelo amor de Si mesmo, já que seu Nome tem sido invocado sobre nós (Dn 9.18).
            Este conhecimento de nossa miséria não deve de modo algum impedir que nos aproximemos de Deus. A oração não tem sido dada para que nos levantemos com arrogância diante de Deus, nem para exaltar nossa dignidade, mas para confessar nossa miséria, gemendo como filhos que apresentam suas queixas a seu pai.
            Pelo contrário, este sentimento deve ser para nós um incentivo que venha nos levar a orar cada vez mais.
            Existem dois motivos que devem nos impulsionar com força para orarmos: em primeiro lugar o mandato de Deus que nos ordena a fazê-lo, e em segundo lugar a promessa com que nos assegura que receberemos o que o peçamos.
            Os que invocam a Deus e oram, recebem um consolo especial, pois se esforçando assim, sabem que fazem uma coisa agradável a Deus. Apoiados na promessa têm, aliás, a certeza de serem ouvidos.
            “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Mt 7.7 e Lc 11.9) disse o Senhor, e continua: “invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás” (Sl 50.15). Esta última passagem busca mostrar dois tipos de oração: a invocação (ou prece) e a ação de graças. Na prece descobrimos diante de Deus os desejos de nosso coração. Pela ação de graças reconhecemos seus benefícios a nosso favor; e nós temos que utilizar constantemente tanto uma como outra, pois nos vemos incomodados por tão grande pobreza e necessidade que ainda os melhores devem suspirar, gemer e invocar continuamente ao Senhor com toda humildade. E por outro lado é tão grande a generosidade que o Senhor em sua bondade nos abençoa tão excelentemente por causa das maravilhas de suas obras, e que sempre encontraremos motivo para lhe adorar e lhe dar ações de graça.

            3 A ORAÇÃO DO SENHOR
            Nosso Pai misericordioso não somente nos tem mandado que oremos e exortado que o busquemos em todas as circunstâncias, mas que vindo além do que não sabemos o que temos que pedir e o que necessitamos, tem querido nos ajudar em nossa ignorância e Ele mesmo tem suprido o que nos faltava, e assim recebemos de sua bondade uma consolação especial ao nos ensinar a orar com as palavras de sua própria boca. Daí que o que peçamos não será absurdo, extravagante ou dito fora de tempo.
            Esta oração que Ele nos tem dado e prescrito compreende seis partes: as três primeiras se referem particularmente a glória de Deus, que é o que sempre devemos ter a frente ao pronunciá-las, sem levar em conta o que diz respeito a nós; as outras três se referem a nós e a nossas necessidades, mas até a glória de Deus que buscamos nas três primeiras petições, resultará em algo para o nosso próprio bem. Mas também nos três últimos pedidos as coisas que precisamos as pedimos, acima de tudo, para glória de Deus.

            1ª PAI NOSSO QUE ESTÁS NOS CÉUS[48]
                        A primeira regra em toda oração fala em que esta tem que ser apresentada a Deus em nome de Cristo, pois se não for neste nome nada o pode ser agradável.
                        Ao chamar a Deus Pai nosso, já estamos pressupondo o nome de Cristo. 
                        Ninguém no mundo é digno de se apresentar a Deus e de aparecer diante de seu rosto. Este bom Pai celestial, para nos livrar de uma confusão que inevitavelmente nos confundiria, nos tem dado como mediador e intercessor a seu Filho Jesus. Seguindo os passos de Jesus podemos nos aproximar dEle confiantemente, tendo plena certeza de que nada do que o peçamos será rejeitado em nome deste Intercessor, pois  o Pai não lhe pode negar nada.
                        O trono de Deus não é somente um trono de Majestade, mas também um trono de graça, diante do qual podemos, em nome de Jesus, ter o privilégio de comparecer livremente para conseguir misericórdia e encontrar graça quando as necessitamos. De fato, como temos o mandamento de invocar a Deus e a promessa de que todos os que o invoquem serão escutados, temos também o mandamento concreto de invocar-lhe o nome de Cristo, e se nos tem feito a promessa de que obteremos tudo o que peçamos em seu nome (Jo 14.13; 16.23).
                        Ele afirma que Deus, nosso Pai, está nos céus, tem como finalidade expressar sua Majestade inefável (a qual nosso espírito, a causa de sua ignorância, não pode compreender de outro modo), pois para nossos olhos não existe realidade mais bela e mais grandiosa do que o céu.
                          A expressão nos céus quer dizer que Deus é sublime, poderoso e incompreensível. E quando ouvimos esta expressão temos que levantar ao alto nossos pensamentos, cada vez que fizermos referência a Deus, a fim de não imaginarmos sobre isto nada de carnal nem terreno, nem lhe medir segundo nossa compreensão, nem regulamentar sua vontade segundo nossos desejos.

                        2ª SANTIFICADO SEJA TEU NOME[49]
                        Nomear a Deus é oferecer aquela adoração com a qual nós o honramos por suas virtudes, ou seja: por sua sabedoria, bondade, seu poder, sua justiça, sua verdade, sua misericórdia.
                        Pedimos, portanto, que a Majestade de Deus seja santificada por suas virtudes. Não é que isso possa aumentar ou diminuir em si mesma, mas que deve ser tida como santa por todos, deve ser reconhecida e exaltada; devemos considerar como gloriosas – pois assim o são – todas as ações de Deus, haja o que houver. De maneira que se Deus castiga, ainda nisto devemos considerá-lo justo; se perdoa, devemos considerá-lo misericordioso; ao cumprir suas promessas, devemos considerá-lo verdadeiro, e pelo motivo de sua glória estar refletida em todas as coisas e brilhar nelas, é necessário que ressoem com estrondo suas adorações em todos os espíritos e por todas as línguas.
           
                        3ª VENHA O TEU REINO[50]
                        O Reino de Deus se manifesta ali onde Deus, por meio de Seu Espírito, governa e dirige aos seus, a fim de demonstrar, em todas as suas obras, as riquezas de sua bondade e misericórdia. A vinda do Reino se atualiza também ao lançar Deus ao abismo os reprovados que não se submetem a seu domínio, e confundir-lhes em sua ignorância, a fim de que se manifeste plenamente que nenhum poder pode resistir ao seu.
                        Pedimos, portanto, que venha o reino de Deus, ou seja: que o Senhor multiplique de dia em dia o número de fiéis que exaltarão sua glória por todas as suas obras, e que reparta mais amplamente a influência de suas graças sobre eles, afim de que vivendo e reinando cada vez mais neles, em união perfeita, os encha dessa plenitude.           
                        Pedimos também que Deus faça brilhar cada dia mais com novos resplendores sua luz e sua verdade para dissipar e eliminar Satanás e as mentiras e trevas de seu reino.
                        Ao pedir que venha o Reino de Deus, pedimos que venha a revelação de seu juízo, naquele dia em que somente Ele será exaltado e será tudo em todos, depois de reunir e receber aos seus na glória, e depois de haver arrasado e destruído o reino de Satanás.

                        4ª SEJA FEITA TUA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU[51]
                        Pedimos aqui que Deus governe e dirija tudo sobre a terra segundo sua vontade, como faz no céu; que dirige todas as coisas em direção ao fim que o pareça bom, se servindo de todas as suas criaturas segundo a sua vontade, e dominando todas as vontades.
                        Ao pedir isto, renunciamos a todos os nossos desejos próprios, submetendo e consagrando ao Senhor tudo o que há disponível em nós, e lhe pedindo que conduza as coisas não segundo nossos desejos, mas como queira decida Ele.
                        Desta forma lhe pedimos, não somente que nossos desejos se convertam em vãos e sem nenhum efeito quando se opõem a sua vontade, mas que crie em nós um espírito e um coração novos, mortificando os nossos de tal modo que não surja neles nenhum desejo sem o completo consentimento a sua vontade.
                        Em resumo: pedimos não querer nada a não ser o que o Espírito deseje em nós, e que por meio de sua inspiração aprendamos a amar tudo o que lhe é grato, e a odiar e a detestar tudo o que lhe desagrada.

                        5ª O PÃO NOSSO DE CADA DIA DÁ-NOS HOJE[52]
                        Pedimos aqui, de um modo geral, tudo o que dentre as coisas deste mundo é útil para o cuidado de nossa existência; não somente o alimento e as roupas, mas tudo o que Deus sabe que precisamos para que possamos comer o nosso pão em paz. Em poucas palavras: aproximamos-nos com esta petição da providência do Senhor e confiamos em seu cuidado para que nos alimente, cuide e conserve, pois este bom Pai não tem por mínimo guardar com cuidado ativo inclusive nosso corpo. Deste modo exercita nossa confiança nEle até nos menores detalhes, fazendo com que esperemos dEle tudo o que nos é necessário: até a última migalha de pão ou gota de água. Ao dizer: Dá-nos hoje nosso pão cotidiano, provamos que não devemos desejar mais do que necessitamos para o dia, com a confiança de que, depois de nos alimentar hoje, nosso Pai também o fará amanhã.
                        Ainda no caso de viver atualmente em abundância, sempre devemos pedir nosso pão cotidiano, reconhecendo que nenhum meio de existência tem sentido senão enquanto que o Senhor lhe faça prosperar e aprovar com sua benção. Pois o que possuímos não é nosso, mas é a medida daquilo que Deus nos concede em seu uso constantemente, fazendo-nos, com isso, participar de seus bens. Ao dizer nosso pão, a bondade de Deus se manifesta, no entanto, fazendo nosso o que por nenhum título nos era devido. Finalmente, ao pedir que nos seja dado este pão, compreendemos que tudo o que adquirimos – ainda o que nos parece que temos ganhado com nosso trabalho – é puro e gratuito dom de Deus.

                       


                        6ª PERDOA-NOS NOSSAS DÍVIDAS, COMO TAMBÉM NÓS TEMOS PERDOADO A NOSSOS DEVEDORES[53]
                        Pedimos agora que nos seja dada graça e perdão de nossos pecados, pois são necessárias a todos os homens sem exceção alguma.
                        Chamamos pecados a nossas ofensas, pois devemos a Deus a pena como pagamento das mesmas, e não poderíamos de modo algum satisfazer por elas se não tivéssemos sido absolvidos por esse perdão que é um perdão gratuito de sua misericórdia.
                        E pedimos que nos seja dado o perdão como nós o damos a nossos devedores, ou seja: como nós perdoamos aqueles que nos tem ferido de alguma maneira, que nos tem ofendido com atos, ou que nos tem afrontado com palavras. Não se trata aqui de uma condição que se afirme, como se merecêssemos, pelo perdão que damos aos demais, que Deus nos dê, mas que se trata de uma prova que Deus nos oferece para provar que o Senhor nos recebe em sua misericórdia com a mesma certeza que nós temos em nossas consciências de sermos misericordiosos com demais, se é que nosso coração está bem purificado de qualquer tipo de ódio, de inveja e de vingança; pelo contrário, por esta prova ou sinal, Deus tira do meio dos seus filhos muitos daqueles que, deixando-se levar pela vingança e recusando perdoar, mantém suas inimizades enraizadas em seu coração. Que os tais não pretendam invocar a Deus como seu Pai, pois a raiva que guardam dos homens cairá, então, sobre si mesmos.

                        7ª E NÃO NOS DEIXES CAIR EM TENTAÇÃO[54], MAS LIVRA-NOS DO MAL[55]. Pois, teu é o reino, o poder e a glória, para sempre. Amém[56].
                        Não pedimos aqui para não ter que sofrer nenhuma tentação[57]. Temos grandíssima necessidade de que as tentações nos despertem, estimulem e sacudam, pois corremos o perigo de nos converter em seres sem forma definida e preguiçosos se permanecermos em uma calma exagerada. A cada dia o Senhor prova a seus escolhidos, adestrando-lhes por meio da grande desonra que possam passar, da pobreza, da tribulação e outros tipos de cruzes.
                        Mas nosso desejo está em pedir que o Senhor nos dê também, ao mesmo tempo que as tentações, o meio de sair delas, para não sermos vencidos e confundidos; melhor ainda, fortalecidos com a força de Deus, para poder nos manter constantemente firmes contra todos os poderes que nos assaltam.
                        Ainda mais: uma vez salvos e protegidos por Ele, santificados com as graças de seu Espírito, governados por sua direção, seremos invencíveis contra o Diabo, a morte e todo tipo de artifício do inferno – que é o que significa estar livres do maligno.
                        Devemos notar como o Senhor quer que nossas orações estejam em conformidade com a regra do amor, pois não nos ensina a pedir cada um para si o que é bom, mas sim, fixar-nos em nosso próximo, nos ensinando a nos preocupar com o bem de nosso irmão como se fôssemos nós mesmos.

                        4 PERSEVERAR NA ORAÇÃO
                        Para terminar, devemos observar que não podemos desejar ligar Deus a alguma circunstância, da mesma forma que nesta oração dominical nos é ensinado a não submeter-lhe a nenhuma lei nem lhe impor nenhuma condição.
                        Antes de lhe dirigir em nosso favor alguma oração, o dizemos primeiramente: “Seja feita a tua vontade”. Deste modo submetemos de antemão nossa vontade a sua, para que, detida e retida como por uma rédea, não tenha o orgulho de querer submeter-lhe ou dominar-lhe.
                        Se, uma vez os nossos corações estejam educados nesta obediência, nos deixamos governar pelo bem querer da providência divina, chegando a aprendermos assim com facilidade a perseverar na oração e a esperar o Senhor com paciência, rejeitando a realização de nossos desejos até que surja a hora de sua vontade. Estaremos seguros também de que, ainda que às vezes nos possa parecer outra coisa, Ele está sempre presente e junto a nós, e que a seu devido tempo manifestará que jamais fez ouvidos surdos a nossas orações, ainda que segundo o juízo dos homens tenha podido parecer que a desprezava.
                        Finalmente, se depois de uma longa espera, incluindo que nossos sentidos não chegam a perceber do que nos tem servido orar, nem percebem fruto algum de nossa oração, nossa fé, sem impedimento nos garantirá do que nossos sentidos não podem perceber: que temos conseguido tudo o que nos foi necessário. Pela fé possuímos então a abundância na necessidade e consolo na pena. Com efeito, ainda que tudo nos venha faltar, Deus jamais nos abandonará, pois não pode frustrar a espera e a paciência dos seus; e somente Ele mudará todas as coisas, já que contêm em si mesmo todos os bens, o qual nos revelará totalmente no futuro.

BREVE INSTRUÇÃO CRISTÃ
5ª PARTE – DOS SACRAMENTOS
           
            1 NECESSIDADE DOS SACRAMENTOS
            Os Sacramentos tem sido instituídos para exercitar nossa fé, tanto diante de Deus, como diante dos homens.
            Diante de Deus, exercitam nossa fé confirmando-a na verdade de Deus. O Senhor conhece, com efeito, que para a ignorância de nossa carne é útil lhe propor os mistérios excelsos e celestiais sob a forma de realidades visíveis. Não que estas qualidades estejam na natureza das coisas que nos são propostas nos Sacramentos, mas que a Palavra de Deus as marca com este significado. A promessa, compreendida na Palavra, sempre vem antes; o sinal é conferido para confirmar e selar esta promessa, a fazendo mais segura, pois o Senhor vê que isto convém a nossas pobres aptidões. Nossa fé é tão pequena e tão fraca que se não estivesse apontada por todos os lados e sustentada com todo tipo de meios, ficaria conseqüentemente quebrada, agitada e vacilante.
            Diante dos homens, os Sacramentos exercitam nossa fé, já que se manifestam em uma confissão pública levando deste modo então a se adorar ao Senhor.

            2 O QUE É UM SACRAMENTO[58]?
            O sacramento é um símbolo externo por meio do qual o Senhor representa e nos testifica sua boa vontade em direção a nós, para sustentar nossa fé fraca.
            De maneira mais breve e mais clara: Sacramento é um testemunho da graça de Deus que se manifesta por meio de um símbolo exterior.
            A Igreja cristã conhece somente dois Sacramentos: o Batismo e a Ceia.
    
           
            3 O BATISMO[59]
            Deus nos tem dado o Batismo, primeiro para servir nossa fé nEle, e logo para servir a nossa confissão diante dos homens.
            A fé olha a promessa pela qual o Pai misericordioso nos oferece a comunhão com seu Cristo, para que, revestidos dEle, participemos de todos seus bens.
            O Batismo representa em particular duas coisas: a purificação que obtemos pelo sangue de Cristo, e a mortificação de nossa carne que temos obtido por sua morte.
            O Senhor mandou que os seus fossem batizados para perdão dos pecados (Mt 28.19; At 2.38), e o apóstolo Paulo ensina que Cristo santifica pela Palavra de vida e purifica pelo Batismo de água a Igreja que da que Ele é o Esposo (Ef 5.26). O apóstolo Paulo também ensina que todos somos batizados na morte de Cristo sendo sepultados em sua morte para andar em novidade de vida (Rm 6.4).
            Isto não quer dizer que a água seja a causa, nem sequer o instrumento da purificação e da regeneração, mas somente que recebemos neste Sacramento o conhecimento destes dons. Disse-se que recebemos, obtemos e confessamos o que cremos que o Senhor nos dá, já que seja que conheçamos estes dons pela primeira vez, ou que, conhecendo-os já, nos convencemos deles com mais certeza.
            O Batismo serve também para nossa confissão para nossa confissão diante dos homens, pois é um sinal pelo qual, publicamente, fazemos profissão de nosso desejo de fazer parte do povo de Deus, para servir e honrar a Deus em uma mesma religião com todos os fiéis.
            E por quanto a aliança do Senhor conosco vem principalmente confirmada pelo Batismo, por isso com toda razão batizamos também a nossos filhos[60], pois participam da aliança eterna pela que o Senhor promete que será, não somente nosso Deus, mas também o de nossa descendência (Gn 17.6 e ss).

            4 A CEIA DO SENHOR[61]
            A promessa que acompanha ao mistério da Ceia dá luz com evidência porque tem sido instituída para o fim que tem.
            Este mistério nos confirma que o corpo do Senhor tem sido entregado por nós uma só vez, e isto de tal maneira que agora é nosso e o será também para todo o sempre, pois o sangue do Senhor foi derramado por nós uma só vez e de maneira que Ele sempre será nosso.
            Estes símbolos são o pão e o vinho sob os quais o Senhor nos apresenta a verdadeira comunhão de seu corpo e de seu sangue. Esta é uma comunhão espiritual, para a qual bastam os laços do Espírito Santo, já que não pede a presença de sua carne sob o pão, ou a do seu sangue sob o vinho, pois se bem que Cristo, elevado ao céu, deixou esta morada terrestre na que nós estamos, no entanto, como peregrinos, naturalmente, nenhuma distância pode diminuir seu poder com o qual alimenta aos seus de si mesmo; e dá a eles, ainda estando distante dEle, de desfrutar de sua comunhão de uma maneira muito íntima.
            E isto nos ensina o Senhor na Ceia de um modo tão certo e manifesto que devemos possuir, sem a menor dúvida, a total segurança de que Cristo nos é apresentado ali com todas as suas riquezas, com mais realidade que se nossos olhos o vissem e nossas mãos o tocassem.
            O poder e a eficiência de Cristo são tão grandes que, não apenas concede na Ceia a nossos espíritos uma confiança segura na vida eterna e a certeza da imortalidade de nossa carne, mas que esta já está vivificada com sua carne imortal e participa, de alguma maneira, de sua imortalidade. Por isso o corpo e o sangue estão representados sob o pão e o vinho, para que aprendamos, não somente que são nossos, mas que também são vida e alimento. Assim, quando vemos o pão em corpo de Cristo, temos que pensar imediatamente nesta comparação: assim como o pão alimenta e conserva a vida de nosso corpo, assim também o corpo de Cristo é o alimento e a proteção de nossa vida espiritual; e quando nos é apresentado o vinho como símbolo de seu sangue, também temos que considerar que recebemos espiritualmente do sangue de Cristo os mesmos benefícios que proporciona o vinho ao corpo.
            E assim, do mesmo modo que este mistério nos ensina quão grande é a generosidade divina para conosco, da mesma maneira nos faz perseverar também a não sermos ingratos diante de uma bondade tão manifesta nos exortando a louvá-la como convém e a celebrá-la com ações de graças.
            Finalmente, este Sacramento nos exorta a nos unir, e isto de uns para com os outros, da mesma forma que se unem entre si os membros de um mesmo corpo. Nenhum atrativo mais poderoso e mais eficaz nos poderia ser dado para promover e exercitar entre nós um mútuo amor como o de Cristo, ao se dar a nós, não nos convidando apenas com seu exemplo a nos dar e a nos consagrar uns aos outros, mas que fazendo-se comum a todos, também faz a todos nós um em si mesmo.

BREVE INSTRUÇÃO CRISTÃ
6ª PARTE – DA ORDEM NA IGREJA E NA SOCIEDADE
           
            1 OS PASTORES DA IGREJA E SUA AUTORIDADE
            Como o Senhor tem querido que sua Palavra e seus Sacramentos nos fossem administrados por ministério de homens, é necessário que existam pastores ordenados nas igrejas, para ensinar ao povo, em público e particularmente a pura doutrina; para administrar os sacramentos os Sacramentos e para dar a todos bom exemplo com uma vida pura e santa.
            Os que desprezam esta disciplina e esta ordem ofendem não somente aos homens, mas também a Deus. Como sectários, se afastam da sociedade da Igreja que não pode subsistir sem este ministério. Tem muita importância o que o Senhor uma vez testificou: quem recebe aos pastores que Ele ama, recebe a Ele mesmo; e igualmente quem os deseja, deseja a Ele (Mt 10.40; Lc 10.16) e para que seu ministério fosse inabalável os pastores recebem o mandamento único de ligar e desligar pela seguinte promessa: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus” (Mt 18.18). Cristo determina em outro lugar que ligar é deter os pecados, e que desligar é perdoá-los (Jo 20.23), e o apóstolo declara como se desliga; quando ensina que o Evangelho é “poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16); e como se liga, quando ensina que os apóstolos estão “prontos para castigar toda desobediência” (2Co 10.6). O resumo do Evangelho é que somos escravos do pecado e da morte e que temos sido livrados e desligados dele pela redenção que há em Jesus Cristo, e que quem não o recebe como Redentor e Senhor, está como que sujeito de novo aos laços de uma condenação mais severa.
            Lembremos naturalmente que a autoridade que a Escritura dá aos pastores está toda ela contida nos limites do ministério da Palavra, pois Cristo, de verdade, não tem dado esta autoridade aos homens, mas a Palavra da qual estes homens se tornaram servos.
            Atrevam-se, portanto, os ministros da Palavra a tudo com ousadia por esta Palavra da qual tem sido nomeados como dispensadores. Obriguem[62] a todos os poderes, glórias e dignidades do mundo a se humilhares para obedecerem a majestade desta Palavra; governem a todos em virtude desta Palavra, desde os maiores até os menores; edifiquem a casa de Cristo, destruam o reino de Satanás, apascentem as ovelhas, separem os lobos, ensinem e exortem aos dóceis, acusem, repreendam e convençam aos rebeldes, mas tudo através da Palavra de Deus.
            Se alguma vez se separarem desta Palavra para seguir os sonhos e as invenções de sua mente, então não devemos tê-los por mais um tempo como pastores, mas, melhor dizendo, lobos roubadores que tem de ser expulsos; pois Cristo nos tem mandado escutar somente a quem nos ensina o que tem sido averiguado, extraído de sua Palavra.

            2 AS TRADIÇÕES HUMANAS
            O apóstolo Paulo tem dado esta regra geral para a vida das igrejas: “Faça-se tudo descentemente e com ordem” (1Co 14.40).
            Não devemos, portanto, considerar como tradições humanas as disposições que servem de ligação para a conservação da paz e da harmonia e para a manutenção da ordem e da honestidade na assembléia cristã. Estas disposições estão de acordo com a regra do apóstolo de tal maneira que não devem ser consideradas como necessárias para a salvação, nem liguem as consciências a religião, nem se incluam no serviço de Deus, nem sejam objeto de qualquer tipo de devoção.
            Pelo contrário, devemos rejeitar energicamente as disposições consideradas como necessárias para o serviço e louvor de Deus que, com o nome de leis espirituais, se estabeleçam para obrigar as consciências. Este tipo de disposições, não só destroem a liberdade que Cristo conseguiu para nós, mas que obscurecem a verdadeira religião e violam a Majestade de Deus, que quer reinar sozinho, por sua Palavra, em nossas consciências.
            Que fique, portanto bem claro e bem estabelecido que tudo é nosso, mas que nós somos de Cristo (1Co 3.23), e que se serve a Deus em vão quando são ensinadas doutrinas que são unicamente de homens (Mt 15.9).

            3 DA EXCOMUNHÃO[63]
            Por meio da excomunhão se separam da companhia dos fiéis, segundo o mandamento de Deus, os que são declaradamente libertinos, adúlteros, glutões, beberrões, agitadores ou esbanjadores (desperdiçadores), mas se corrigem depois de haverem sido advertidos.
            Ao lhes excomungar, a Igreja não pretende lançar-lhes em uma ruína irremediável e no desespero, mas que condena sua vida e seus hábitos, e os adverte que certamente serão condenados (no dia do Juízo) se não se corrigirem.
            Esta disciplina é indispensável entre os fiéis, pois a Igreja é o corpo de Cristo e não deve ser manchada e contaminada por estes membros imundos e podres que desonram a seu Cabeça. O contato freqüente com estes malvados não deve corromper e deixar a perder os santos, como acontece às vezes. Além do mais, o castigo de sua maldade se aproveita para os seus males, enquanto que a tolerância os faria mais teimosos.  
            Ao se sentirem confundidos por esta vergonha, aprendem a se corrigir.
            Se os maus se corrigem, a Igreja os recebem de novo com doçura em sua comunhão e na participação desta unidade da que haviam sido excluídos.
            Para que ninguém despreze teimosamente o juízo da Igreja, nem se mostre indiferente a condenação ditada pela sustentação dos fiéis, o Senhor testemunha que o juízo dos fiéis não é senão a manifestação de sua própria sentença, e que o que eles pronunciam na terra é confirmado nos céus. É a palavra de Deus que dá o poder de condenar aos perversos, do mesmo modo que dá o de receber em graça aos que se corrigem.

            4 AS AUTORIDADES[64]
            O Senhor não somente tem declarado que aprova o cargo das autoridades e que lhes são agradáveis, mas que ainda mais os elogia calorosamente, e honra a dignidade das autoridades com formosos títulos de louvor.        
            O Senhor afirma que são obra de sua Sabedoria: “Por mim reinam os reis, e os príncipes determinam justiça. Por mim dominam os príncipes, e todos os governadores julgam a terra” (Pv 8.15-16).
            No livro dos Salmos, lhes chama deuses, pois fazem sua obra (Sl 82.6). Em outro lugar nos diz que eles exercem sua justiça representativamente de Deus e não dos homens (Dt 1.17).    
            E o apóstolo Paulo cita, entre os dons de Deus, aos superiores (Rm 12.8). Naturalmente, no capítulo 13 da carta aos Romanos, o apóstolo expõe mais claramente que a autoridade das autoridades vem de Deus, e que são ministros de Deus para aprovar aos que fazem o bem e para exercer a vingança de Deus sobre aqueles que fazem o mal (Rm 13.1-7).
            Os príncipes e as autoridades devem, portanto, recordar de Quem são servidores quando cumprem seu ofício, e não fazer nada que seja índigo de ministros e subservientes de Deus. A primeira de suas preocupações deve ser a de conservar, em sua verdadeira pureza, a forma pública da religião, conduzir a vida do povo com boas leis, e procurar o bem, a tranqüilidade pública e doméstica de seus “servos”.
            E tudo isto poderá ser conseguido apenas pelos meios que o Profeta recomenda em primeiro lugar: a justiça e o juízo (Jr 22.3 e ss).
            A justiça consiste em proteger aos inocentes, mantê-los, guardá-los e libertá-los.
            O juízo consiste em resistir à audácia dos maus, reprimir a violência e castigar os crimes.
            Em troca o dever dos servos é o de que, não venha somente honrar e respeitar a seus superiores, mas em pedir ao Senhor, através da oração, sua salvação e sua prosperidade, submeter-se também de boa vontade a sua autoridade, obedecer suas leis e constituições, e não recusar as cargas que coloquem sobre nós: impostos, direitos, contribuições, serviços civis, etc.
            Não somente devemos obediência às autoridades que exercitam sua autoridade pelo que é certo e pelas suas obrigações, mas que temos também que suportar aos que abusam tiranicamente de seu poder, até que tenhamos sido livrados de seu jugo. Pois se um bom “príncipe” é um testemunho da bondade divina em ordem para a salvação dos homens, um mal e perverso príncipe é um chicote de Deus para castigar os pecados do povo. Devemos ter como certo ainda mais, em geral, que Deus da a autoridade a uns e outros, e que não podemos ser contra eles ser antes de estarmos sendo primeiro contra a ordem de Deus.     
            Naturalmente há como sempre se fazer uma exceção, quando se fala da obediência devida as autoridades, a saber: que esta obediência não deve nos separar da obediência dAquele cujos mandatos devem vir antes aos de todos os “reis”. O Senhor é o Rei dos reis e todos devem escutar somente a Ele, pois Ele falou por sua santa boca, e a Ele se deve escutar mais do que a nada.
            Enfim, tão somente em Deus estamos submetidos aos homens que tem sido postos sobre nós, e se nos mandam fazer algo contra o Senhor, não devemos dizer nada, mas que, melhor do que isso, colocar em prática esta máxima da Escritura: “Temos que obedecer antes a Deus que os homens” (At 4.19). 

COMPLEMENTOS
                        QUEM FOI CALVINO? QUAL FOI SEU PAPEL COMO “REFORMADOR”?
            Calvino nasceu na pequena cidade de Noyon, na França, em 10 de junho de 1509, quando Lutero já havia ditado suas primeiras conferências na Universidade de Wittenberg. Seu pai pertencia à classe média da cidade e trabalhava principalmente como secretário do bispo e procurador da biblioteca da catedral. Fazendo uso de tais conexões, procurou para seu filho os benefícios eclesiásticos com os quais custeasse seus estudos.
Com esses recursos, Calvino foi estudar em Paris, onde conheceu tanto o humanismo como a reação conservadora que se lhe opunha. A discussão teológica que tinha lugar nos seus dias levou-o a conhecer as doutrinas de Wyclif, Huss e Lutero. Porém, segundo ele mesmo disse: "estava obstinadamente atado às superstições do papado". Em 1529 completou seus estudos em Paris, ao obter o grau de Mestre em Artes, e decidiu dedicar-se à jurisprudência. Com esse propósito, continuou seus estudos em Orleans e em Bourges, sob a orientação dos dois mais célebres juristas daquela época: Pierre de I'Estoile e Andrea Alciati. O primeiro seguia os métodos tradicionais no estudo e na interpretação das leis, enquanto o segundo era um humanista elegante e talvez algo vaidoso. Quando houve um debate entre ambos, Calvino interveio em favor do primeiro. Isto é importante porque indica que, ainda nesses tempos em que começava a desejar cultivar um espírito humanista, ela não senti simpatias pela elegância vã de que freqüentemente se viam possuídos alguns dos mais famosos humanistas.
            Não se sabe o motivo certo que levou Calvino a abandonar a fé romana, nem a data exata em que isso ocorreu. Diferentemente de Lutero, Calvino nos diz muito pouco sobre o estado interior de sua alma. Porém o mais provável parece ser que, no meio do círculo de humanistas que freqüentava e através de seus estudos das Escrituras e da antigüidade cristã, Calvino chegou à convicção de que teria de abandonar a comunhão romana e seguir o caminho dos protestantes.
            Em 1534, se apresentou em sua cidade natal e renunciou aos benefícios eclesiásticos que seu pai havia conseguido e que eram a sua principal fonte de sustento econômico. Se ele já estava decidido neste momento, a abandonar a igreja romana, ou se esse ato foi simplesmente um passo a mais na sua peregrinação espiritual, nos é impossível saber. O fato é que em outubro de 1534 Francisco I, até então relativamente tolerante com os protestantes, mudou sua política e, em janeiro seguinte, Calvino se exilava na cidade protestante de Basiléia.
            Calvino sentia-se chamado a dedicar-se ao estudo e às obras literárias. Seu propósito não era de modo algum chegar a ser um dos líderes da Reforma, mas sim encontrar um lugar tranqüilo onde pudesse estudar as Escrituras e escrever sobre a nova fé. Pouco antes de chegar a Basiléia, havia escrito um breve tratado sobre o estado das almas dos mortos antes da ressurreição. Segundo ele encarava sua própria vocação, sua tarefa consistiria em escrever outros tratados como esse, que serviriam para aclarar a fé da igreja numa época de tanta confusão.
            Portanto, seu principal projeto era um breve resumo da fé cristã do ponto de vista protestante. Até então, quase toda literatura protestante, chegava pela urgência da polêmica, e assim tratava somente dos pontos em discussão, e havia dito pouca coisa sobre outras doutrinas fundamentais do cristianismo, como por exemplo, a Trindade, a Encarnação, etc. O que Calvino se propunha então era cobrir esse vazio com um breve manual ao qual deu o título de "Institutas da Religião Cristã".
            A primeira edição surgiu em Basiléia, no ano de 1536. Era um livro de 516 páginas, porém de formato pequeno (é esta obra aqui adaptada em apostila), de modo que cabia facilmente nos amplos bolsos que se usavam antigamente, e podia, circular dissimuladamente pela França. Constava de apenas seis capítulos. Os primeiros quatro tratavam sobre a lei, o Credo, o Pai Nosso e os sacramentos.
Transcrição parcial de "A Era dos Reformadores" - Justo L. Gonzalez, publicado pela Sociedade Religiosa Edições Vida Nova.

O Credo de Lutero
            Creio em Deus, que me criou a mim e a todas as criaturas, que me deu e que sustenta meu corpo com todos os seus membros e meu espírito com todas as suas faculdades; que me provê abundantemente alimento diário, vestimenta, habitação e tudo o que é necessário para a vida. Que me ampara contra todo perigo e me protege e guarda de todo o mal; e tudo isso o faz sem qualquer mérito ou dignidade de minha parte, mas por sua pura bondade e sua divina misericórdia. E isto é, com toda certeza, a verdade.
            Creio em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, que é meu Senhor. Que remiu a mim, perdido e condenado, libertando-me do pecado, da morte e do poder do maligno, não com ouro ou prata, mas com seu sangue e com seu sofrimento e pela sua morte inocente, para que lhe pertença para sempre e viva uma vida nova com Ele mesmo, que ressuscitado dentre os mortos, vive e reina eternamente. E isto é, com toda a certeza a verdade.
            Creio que o Espírito Santo me chama pelo Evangelho, me ilumina com seus dons, me santifica, me mantém na verdadeira fé e na Igreja que Ele congrega de dia em dia. É Ele também quem perdoa plenamente meus pecados, assim como aos de todos os que crêem. É Ele quem, no ultimo dia, me ressuscitará dentre os mortos e me dará, com todos os fiéis em Cristo, a vida eterna. E isto é, com toda certeza, a verdade.
Este artigo é parte integrante do portal http://www.textosdareforma.net. Exerça seu Cristianismo: enviado por Humberto Duarte, membro da Igreja Anglicana de Natal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  • BALLESTERO, Maria Esmeralda; BALBÁS, Alvarez Marcial Soto Balbás. Dicionário Espanhol-Portugês-Portugês-Espanhol. São Paulo: FTD, 703 p.
  • BÍBLIA SAGRADA, Versão no formato HTML. Internet Explorer.
  • BÍBLIA SAGRADA, Versão Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida. Sociedade Bíblica do Brasil, 2 ed, São Paulo: SP, 1993.   
  • ·         CALVINO, Juan. Breve Insruccion. Rijswijk (Z.H.), Países Bajos: FELiRe 4 ed, 1996. 84 p.
  • Catecismo Menor de Martinho Lutero - por Martinho Lutero: http://www.textosdareforma.net e http://www.monergismo.com. 
  • ·         CD-Rom: BibleWorks, Versão 5. 
  • ·         FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio Século XXI: O Minidicionário da Língua Portuguesa. 4 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. 790 p.
  • GRENZ, Stanley J.; GURETZK David; NORDLING Cherith Fee. Dicionário de Teologia: Edição de Bolso, Mais de 300 Conceitos Teológicos Definidos de Forma Clara e Concisa. 2 ed. São Paulo: Vida, 2001.
  • Moggré A.J. Los doce artículos de la fé. Rijswijk (Z.H.), Países Bajos: FELiRe, 6 ed – 2001, 24 p. 
  • ·         Nascimento, Adão Carlos. A Razão da Nossa Fé - A História, as Doutrinas e o Governo da Igreja Presbiteriana do Brasil, ao alcance de todos, em poucos minutos de leitura. São Paulo: Cultura Cristã, 7 ed. 1998, 48 p. 
  • ·         OLSON, Roger. História da Teologia Cristã: 2000 Anos de Tradição e Reformas. São Paulo: Vida, 2001. 668 p. 
  • ·         PEREIRA, Helena Bonito Couto. Dicionário Escolar Espanhol-Português-Português-Espanhol. São Paulo: Michaelis, 765 p. 
  •          SPROUL, R.C. Verdades Essenciais da Fé Cristã – Cadernos: 1, 2 e 3 -  Doutrinas Básicas em Linguagem Simples e Prática, 2 Edição, São Paulo: Cultura Cristã, 2001.  
     

[1] Com o título de “Instrução e Confissão de Fé, que a Igreja de Genebra usa” (impresso por Wigand Koeln), traduzido depois para o latim pelo próprio Calvino. Um exemplar, sem dúvida único, foi descoberto por M. Henri Bordier, no volume 940 da coleção Du Puy, na Biblioteca Nacional de Paris, cujo texto foi novamente impresso em 1878, com o título: “O Catecismo francês de Calvino publicado em 1537. Reimpresso pela  primeira vez por um exemplar recentemente descoberto e acompanhando da mais antiga Confissão de fé da Igreja de Genebra. Com duas notas acrescentadas por Albert Rilliet e Théophile Dufour. Em Genebra, H. Georg, como editor e impressão de J. G. Fick.
[2] Aqui se trata do temor reverencial que sente um filho com respeito a seu pai amado, e não do temor servil que foi tratado acima.
[3] Passado a confiar em si mesmo.
[4] Leiam-se Dt 30.19,20; Jo 6.44,65; Jo 8.34-36; Jo 15.5; Rm 8.5-8 e Tg 1.13-15.
[5] Leiam-se textos sobre: O PECADO – Rm 2.1-11; Rm 3.10-26; Rm 5.12-19; Tg 1.12-15 e 1Jo 1.8-10; O PECADO ORIGINAL – Gn 3.1-24; Jr 17.9; Rm 3.10-26; Rm 5.12-19 e Tt 1.15. A DEPRAVAÇÃO HUMANA – Jr 17.9; Rm 8.1-11; Ef 2.1-3; Ef 4.17-19 e 1Jo 1.8-10. A CONSCIÊNCIA HUMANA – Rm 11.39-44; Rm 2.12-16; Rm 14.23 e Tt 1.15.
[6] Leiam-se Êx 20.1-17; Sl 115.3; Mt 5.17-20; Rm 7.7-25 e Gl 3.23-29.
[7] Este deve ser o que move a vontade para a busca efetiva do bem de outrem.
[8] Que significa isto? Devemos temer e amar a Deus e confiar nele acima de tudo.
[9]Que significa isto? Devemos temer e amar a Deus e, por isso, em seu nome não amaldiçoar, jurar, praticar a magia, mentir ou enganar; mas devemos pedir a sua ajuda em todas as necessidades, orar, louvar e agradecer.
[10]Que significa isto? Devemos temer e amar a Deus e, por isso, não desprezar a pregação e a sua palavra; mas devemos ter respeito por ela, ouvi-la e estudá-la com gosto.
[11] 1 Sentimento religioso baseado no temor ou na ignorância, e que leva a admitir falsos deveres, recear coisas fantásticas, etc. 2 Crenças em presságios, tirados de fatos apenas casuais. 3 Apego exagerado e/ou infundado a algo.
[12] Que significa isto? Devemos temer e amar a Deus e, por isso, não desprezar nem irritar nossos pais e as pessoas que têm autoridade sobre nós; mas devemos honrá-los, servir e obedecer-lhes, amar e querê-los bem.
[13] No caso de nossa “República Federativa do Brasil”, o presidente é que direciona o país. 
[14] 1 Aqueles a quem se delegaram poderes para se governar ou distribuir justiça. 2 Juiz, desembargador, ministro.  
[15] Que significa isto? Devemos temer e amar a Deus e, por isso, não agredir nem ferir o nosso próximo; mas devemos ajudá-lo para que tenha tudo de que precisa para viver.
[16] Que significa isto? Devemos temer e amar a Deus e, por isso, levar uma vida sexual responsável e disciplinada, amar e respeitar a esposa ou o marido.
[17] Abstenção de prazeres; abstinência. 
[18] Intenperante – 1 Que não é sóbrio. 2 Dissoluto.   
[19] Subtrair fraudulentamente (coisa alheia); roubar. Que significa isto? (o OITAVO MANDAMENTO) Devemos temer e amar a Deus e, por isso, não tirar o dinheiro ou os bens do próximo nem nos apoderar deles por meio de mercadorias falsificadas ou negócios desonestos; mas devemos ajudá-lo a conservar e melhorar seu meio de vida.
[20] Rapinar – 1 Roubar, tirar com violência. 2 Subtrair, furtar.
[21] Que significa isto? Devemos temer e amar a Deus e, por isso, não enganar o nosso próximo com falsidade, traí-lo, caluniá-lo ou fazer acusação falsa contra ele; mas devemos desculpá-lo, falar bem dele e interpretar tudo da melhor maneira.
[22] Qualidade de rapace – 1; tendência para o roubo ou hábito de roubar.
[23] Que significa isto? Devemos temer e amar a Deus e, por isso, não tentar conseguir com esperteza a herança ou a casa do nosso próximo nem nos apoderar delas como se tivéssemos direito a isso; mas devemos ajudar e cooperar para que possa conservá-las e ainda devemos temer e amar a Deus e, por isso, não seduzir, desviar ou afastar a esposa ou o marido do próximo, nem as pessoas que trabalham com eles; mas devemos aconselhá-los para que fiquem e cumpram o seu dever.
[24] Malevolante – 1 De má índole; mau, malévolo. 2 Que tem má vontade contra alguém.
[25] Libidinoso – 1 Relativo ao prazer sexual ou o que o sugere. 2 – Lascivo, devasso, libertino.
[26] Enquanto homens e crentes. Os deveres que nos dizem respeito a nosso próximo, determinam o que nosso próximo tem direito a esperar de nós; conseqüentemente, de fato e aos nossos olhos o que lhe pertence em propriedade. 
[27] Que diz Deus de todos estes mandamentos? Ele diz: "Eu, o Eterno, sou o seu Deus e não tolero outros deuses. Eu castigo aqueles que me odeiam, até os netos e bisnetos. Porém, sou bondoso com aqueles que me amam e obedecem aos meus mandamentos e abençôo os seus descendentes por milhares de gerações." Deus ameaça castigar todas as pessoas que não cumprem estes mandamentos; por isso, devemos temer a sua ira e não deixar de cumpri-los; mas ele promete graça e todo o bem às pessoas que os praticam. Por isso, devemos amá-lo, confiar nele e guardar os seus mandamentos de boa vontade.
[28] Incluiu.
[29] Premiador, compensador, gratificador. 
[30] Leiam-se Rm 1.16-32; Rm 5.1-11; Rm 10.14-17; Gl 3.1-14; Ef 2.8,9 e Tg 2.14-26.
[31] Leiam-se Rm 3.21-28; Rm 5.12-19; 2Co 5.16-21; Gl 2.11-21; Ef 2.1-10 e Fp 3.7-11.
[32] Remir – 1 – Adquirir de novo. 2 – Resgatar (1). 3. Ressarcir. 4. Expiar, pagar. 5. Libertar (uma propriedade) de ônus, resgatando-a. 6. Livrar-se do cativeiro. 7. Reabilitar-se.
[33] Leiam-se Sl 19.7-11; Sl 119.9-16; Rm 7.7-25; Rm 8.3,4; 1Co 7.19 e Gl 3.24.
[34] Sig., num de seus sentidos, aflição, agonia, amargura, angústia, consternação e dor.
[35] Aquele a quem é dado um cargo, função, ofício. 2 – Medianeiro, intermediário.
[36] Engendrada conosco.
[37] Estima – Sentimento de importância, do valor, de alguém ou de algo; apreço.
[38] Sob a sua forma atual, esta Confissão de Fé surgiu por volta do séc. VIII na Europa Ocidental, mas mergulha as suas raízes em outra parte sendo utilizada em Roma por volta do séc. IV, por ocasião do ensino dos iniciantes na fé cristã e seus batismos. Sendo assim, não passou a existir do dia para a noite. A sua necessidade veio existir pelo motivo de que a Igreja precisava se definir em determinados pontos necessários para todos os que desejassem se filiar a ela. Já naqueles tempos existiam muitos que se diziam cristãos, mas não conheciam ou mesmo rejeitavam os ensinos bíblicos. Um padrão de fé era necessariamente urgentemente, porém, pode-se até mesmo surgir a pergunta: por que “Credo dos Apóstolos”? Primeiro seja dito que ele não tem nada a ver com os apóstolos no sentido de ter sido feito por eles. Segundo, o nome Credo vem do latim, que quer dizer Creio. Desde o começo a Igreja cristã exigia uma declaração de fé dos que desejavam ser batizados. Um exemplo claro nas Escrituras foi o caso de Felipe impondo a condição para o batismo do Eunuco (leia-se At 8.36-38). Tendo o tempo passado a declaração de fé (profissão de fé) recebeu novos elementos chegando-se assim até essa fórmula que está sendo comentada aqui dividida em doze artigos: Seu conteúdo nos lembra a verdadeira mensagem cristã tal como foi anunciada desde os dias apostólicos.[
[39] Os títulos e as perguntas que se seguiram como sendo ‘perguntas para instrução básica’ foram tirados de um pequeno catecismo escrito por Martinho Lutero em 1529. A intenção de Lutero através deste catecismo era dar uma introdução às crenças cristãs. Lutero o escreveu logo no início da Reforma em resposta à ignorância que ele observou no povo alemão. Ele é apresentado numa forma de perguntas e respostas. As respostas são curtas e diretas.
[40] Perguntas para instrução básica: O Que significa isto? Creio que Deus me criou a mim e a todas as criaturas; e me deu corpo e alma, olhos, ouvidos e todos os membros, razão e todos os sentidos, e ainda os conserva; além disso me dá vestes, calçado, comida e bebida, casa e lar, esposa e filhos, campos, gado e todos os bens. Supre-me abundante e diariamente de todo o necessário para o corpo e a vida; protege-me contra todos os perigos e me guarde de todo o mal. E tudo isso faz unicamente por sua paterna e divina bondade e misericórdia, sem nenhum mérito ou dignidade de minha parte. Por tudo isso devo dar-lhe graças e louvor, Serví-lo e obedecer-lhe. Isto é certamente verdade.
[41] O Que significa isto? Creio que Jesus Cristo, verdadeiro Deus, gerado do Pai desde a eternidade, e também verdadeiro homem, nascido de Maria virgem, é meu Senhor. Pois me remiu a mim, homem perdido e condenado me resgatou e salvou de todos os pecados, da morte e do poder do diabo; não com ouro ou prata, mas com seu santo e precioso sangue e sua inocente paixão e morte, para que eu lhe pertença e viva submisso a ele, em seu reino, e o sirva em eterna justiça, inocência e bem-aventurança, assim como ele ressuscitou dos mortos, vive e reina eternamente. Isto é certamente verdade.
[42] Que não pode ser explicado por palavras.
[43] Também lido: desceu ao hades, que quer dizer que este lugar indica o estado dos mortos. Mesmo se tendo a idéia de que o Senhor Jesus Cristo não “desceu até ao inferno” propriamente dito, entendemos que Ele sofreu o inferno na cruz “descendo até ele” nos seus mais terríveis tormentos. (leiam-se também Is 53.4-5 e Gl 3.13).
[44] O Que significa isto? Creio que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé. Assim também chama, congrega, ilumina e santifica toda a cristandade na terra, e em Jesus Cristo a conserva na verdadeira e única fé. Nesta cristandade perdoa a mim e a todos os crentes diária e abundantemente todos os pecados, e no dia derradeiro me ressuscitará a mim e a todos os mortos, e me dará a mim e a todos os crentes em Cristo a vida eterna. Isto é certamente verdade.
[45] O termo significa literalmente “universal” ou “mundial”. Mesmo sendo geralmente associado ao romanismo, é fato real que primeiramente tenha se popularizado no Cristianismo por meio da, por exemplo, fórmula de fé que estamos aprendendo. Assim, como antigamente diziam, hoje, também, podemos confirmar a nossa crença em “uma santa igreja cristã católica e apostólica”. Afirmar a catolicidade da Igreja é fazer com que venhamos acreditar que ela seja universal em seu alcance (Gl 3.28).
[46] 1) O que é o ministério da absolvição dos pecados? É o poder especial que Cristo deu à sua Igreja na terra, para perdoar os pecados às pessoas que se arrependem e não os perdoar a quem não se arrepende. 2) Onde está escrito isto? Nosso Senhor Jesus Cristo diz a Pedro, no Evangelho de Mateus, capítulo dezesseis: "Eu lhe darei as chaves do Reino do céu; o que você proibir na terra será proibido no céu, e o que permitir na terra será permitido no céu." Do mesmo modo diz o Senhor aos discípulos, no Evangelho de João, capítulo vinte: "Recebam o Espírito Santo. Se vocês perdoarem os pecados de alguém, esses pecados são perdoados; mas, se não perdoarem, eles não serão perdoados." 3) Que é a confissão? A confissão tem duas partes: Primeiro, confessamos os nossos pecados; segundo, aceitamos a absolvição que a pessoa que ouve a nossa confissão nos anuncia. Podemos aceitá-la como vinda de Deus mesmo, não duvidando de modo algum, mas crendo firmemente que por ela os pecados estão perdoados perante Deus no céu. 4) Que pecados devemos confessar? Diante de Deus devemos confessar que somos culpados de todos os pecados, também dos pecados dos quais não nos damos conta, como fazemos no Pai-Nosso. Mas, diante da pessoa que ouve a nossa confissão, devemos somente confessar os pecados dos quais nos damos conta e que pesam na consciência. 5) Que pecados são estes? Examine a sua vida à luz dos dez mandamentos: se você é pai, mãe, filho, filha, patrão, patroa, empregado, empregada, se você foi desobediente, infiel, negligente, raivoso, desrespeitoso, briguento, mentiroso, se você fez mal a alguém com palavras ou ações, se roubou, descuidou ou deixou de fazer o que devia. 6) Como confessamos os nossos pecados à pessoa que ouve a nossa confissão? Podemos fazê-lo dizendo: "Peço que ouça a minha confissão e me anuncie o perdão em nome de Deus." Depois confessamos que somos culpados de todos os pecados diante de Deus. À pessoa que ouve a nossa confissão dizemos o pecado que mais nos pesa na consciência. Podemos concluir dizendo: "Arrependo-me de tudo isto. Peço misericórdia. Quero mudar de vida." 7) Como se dá a absolvição? A pessoa que ouve a confissão diz: "Deus tenha misericórdia de você e fortaleça a sua fé! Amém. Você crê que a minha absolvição é a absolvição de Deus?" Respondemos: "Sim, eu creio." A pessoa que ouve a confissão fala: "Como você crê, assim será. Por ordem de nosso Senhor Jesus Cristo lhe perdôo os seus pecados, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém. Vá em paz!" 8) Breve forma de confessar os pecados: Deus todo-poderoso, Pai misericordioso. Eu, pessoa pobre, miserável e pecadora, confesso-te todos os meus pecados e injustiças que cometi em pensamentos, palavras e ações. Com eles, em algum momento, causei a tua ira, merecendo o teu castigo nesta vida e na eternidade. Todos estes pecados pesam na minha consciência e me arrependo deles profundamente. Peço-te, por causa da tua misericórdia infinita e da inocente e amarga paixão e morte de teu Filho Jesus Cristo: tem misericórdia de mim, pobre pessoa pecadora. Perdoa-me todos os meus pecados. Concede-me a força do teu Espírito Santo para melhorar a minha vida. Amém!
[47] Leiam-se Jó 13.15; Rm 5.1-5; Rm 8.18-25; Tt 2.11-14 e 1Jo 3.1-3.
[48] Perguntas para instrução básica: Que significa isto? Deus quer atrair-nos com estas palavras para crermos que ele é nosso Pai de verdade e nós somos seus filhos e filhas de verdade. Portanto, podemos pedir a ele sem medo e com toda a confiança, como filhos queridos ao seu querido pai.
[49] Que significa isto? O nome de Deus é santo por si mesmo. Mas pedimos nesta oração que ele seja santificado também entre nós. Como acontece isto? Quando a palavra de Deus é ensinada de forma clara e pura, e nós, como filhos e filhas de Deus, também vivemos uma vida santa de acordo com ela. Ajuda-nos para que isto aconteça, querido Pai no céu. A pessoa, porém, que ensina e vive de modo diferente do que ensina a palavra de Deus, desonra o nome de Deus entre nós. Guarda-nos disso, Pai celeste.
[50] Que significa isto? O reino de Deus vem por si mesmo, sem a nossa oração. Mas pedimos nesta oração que ele venha também a nós. Como acontece isto? Quando o Pai celeste nos dá o seu Espírito Santo para crermos, por sua graça, em sua santa palavra e vivermos em comunhão com Deus neste mundo e na eternidade.
[51] Que significa isto? A boa e misericordiosa vontade de Deus é feita sem a nossa oração. Mas pedimos nesta oração que ela seja feita também entre nós. Como acontece isto? Quando Deus desfaz e impede todo mau plano e vontade que não querem nos deixar santificar o nome de Deus e não querem que seu reino venha. Vontades assim são a do diabo, do mundo e de nós mesmos. E, por outro lado, isto acontece quando Deus nos fortalece e mantém firmemente na sua palavra e na fé, até o fim. Esta é a sua vontade boa e misericordiosa.
[52] Que significa isto? Deus dá o pão de cada dia, também sem o nosso pedido, a todas as pessoas, inclusive às pessoas más. Mas pedimos nesta oração que ele nos faça reconhecer isso e receber com gratidão o pão nosso de cada dia.  O que significa pão de cada dia? Tudo que se refere ao sustento e às necessidades da vida, como por exemplo: comida, bebida, roupa, calçado, casa, lar, meio de vida, dinheiro e bens, marido e esposa íntegros, filhos íntegros, empregados íntegros, patrões íntegros e fiéis, bom governo, bom tempo, paz, saúde, disciplina, honra, amigos leais, bons vizinhos e coisas semelhantes.
 [53] Que significa isto? Pedimos nesta oração que o Pai no céu não leve em conta os nossos pecados nem por causa deles recuse os nossos pedidos. Pois não somos dignos das coisas que pedimos nem as merecemos. Pedimos que Deus nos conceda tudo por graça, já que diariamente pecamos muito e nada merecemos a não ser castigo. Da mesma forma queremos nós perdoar de coração e de boa vontade e fazer o bem aos que pecam contra nós.
[54] Que significa isto? Deus não tenta ninguém. Mas pedimos nesta oração que ele nos proteja e guarde, para que não sejamos enganados pelo diabo, pelo mundo e por nós mesmos nem sejamos levados a crenças falsas, desespero e outra grande vergonha ou vício. E pedimos que, mesmo sendo tentados, vençamos no final e mantenhamos a vitória.
 [55] Que significa isto? Pedimos nesta oração, em resumo, que o Pai no céu nos livre de todos os males que afetam o corpo e a alma, os bens e a honra. E pedimos que, na hora de nossa morte, ele nos dê um fim bem-aventurado e nos leve por graça deste mundo para junto de si no céu.
 [56] Que significa amém? Devemos ter certeza de que estes pedidos agradam ao Pai no céu e de que ele os atende. Pois ele mesmo nos mandou orar assim e prometeu atender-nos. Amém, amém, isto significa: sim, assim seja!
 [57] Na linguagem do Novo Testamento, o mesmo termo serve para citar a tentação e a prova.
[58] Leiam-se Mt 28.19,20; At 2.40-47; Rm 6.1-4; 1Co 11.23-34 e Gl 3.26-29.
[59] Primeiro a) O que é o batismo? O batismo não é só água, mas é a água contida no mandamento de Deus e ligada à palavra de Deus. b) Qual é esta palavra de Deus? É a que nosso Senhor Jesus Cristo diz no último capítulo de Mateus: "Portanto, vão a todos os povos do mundo e façam que sejam meus seguidores, batizando esses seguidores em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Segundo a) Que dá ou para que serve o batismo? Realiza o perdão dos pecados, livra da morte e do diabo, e dá a salvação eterna a todas as pessoas que crêem no que dizem as palavras e promessas de Deus. b) Quais são estas palavras e promessas de Deus? São as palavras que nosso Senhor Jesus Cristo diz no último capítulo de Marcos: "Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado." Terceiro a) Como pode a água fazer coisas tão grandes? Não é a água que faz isso, mas é a palavra de Deus unida à água e a fé que confia nesta palavra. Pois sem a palavra de Deus a água é só água e não é batismo. Mas unida à palavra de Deus ela é batismo, isto é, água de vida, cheia de graça, um banho de novo nascimento no Espírito Santo, como diz Paulo na Carta a Tito, no terceiro capítulo: "Ele nos salvou não porque fizemos alguma coisa boa, mas por causa da sua própria misericórdia. E, por meio do Espírito Santo, ele nos purificou e nos fez nascer de novo e nos deu uma nova vida. Deus foi generoso e derramou o seu Espírito Santo sobre nós, por meio de Jesus Cristo, o nosso Salvador. E fez isso para que, pela sua graça, fiquemos livres de qualquer culpa e recebamos a vida eterna que esperamos. Esse ensino é certo." Quarto a) Que significa este batizar com água? Significa que, por arrependimento diário, a velha pessoa em nós deve ser afogada e morrer com todos os pecados e maus desejos. E, por sua vez, deve sair e ressurgir nova pessoa, que viva em justiça e pureza diante de Deus para sempre. b) Onde está escrito isto? Paulo diz na Carta aos Romanos, no sexto capítulo: "Assim, quando fomos batizados, fomos enterrados com ele por termos morrido junto com ele. E isso para que, como Cristo foi ressuscitado pelo poder glorioso do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova." Leiam-se Rm 4.11,12; Rm 6.3,4; 1Co 12.12-14; Cl 2.11-15 e Tt 3.3-7.
[60] Batismo dos filhos dos crentes: Os filhos quando batizados, passarão a ser contados como povo da Aliança (e isso tendo a fé dos pais como motores), e membros não-comungantes da igreja de Cristo. E, para eles, não serão negados nenhum dos benefícios promovidos pela igreja de Cristo aqui na terra, tais como: o direito de viverem como os herdeiros do pacto e de serem tratados como tais (leia-se Gênesis 17.1-14; Atos 2.38,39; Atos 16.25-34). Observações importantes: 1ª – O Novo Testamento não ordena nem proíbe explicitamente o batismo de crianças; 2ª – Os defensores do batismo de filhos de crentes apontam para a continuidade entre a circuncisão e o batismo como sinais da fé; 3ª – A maioria dos batismos registrados no Novo Testamento era de adultos convertidos, da primeira geração de cristãos, os quais, é claro, não poderiam ter sido batizados quando crianças; 4ª – O registro dos batismos no Novo Testamento inclui batismos de “famílias”, as quais provavelmente incluíam as crianças e 5ª – A história da igreja testifica quanto à prática universal, sem polêmicas, do batismo de filhos de crentes no segundo século.      
[61] Primeiro a) Que é a Ceia do Senhor? É o verdadeiro corpo e sangue de nosso Senhor Jesus Cristo para ser comido e bebido por nós, cristãos, sob o pão e o vinho. Este sacramento foi instituído pelo próprio Cristo. b) Onde está escrito isto? Assim escrevem os santos evangelistas Mateus e Lucas, e o apóstolo Paulo: "Nosso Senhor Jesus Cristo, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e o deu aos seus discípulos, dizendo: Tomem, comam; isto é o meu corpo que é dado por vocês; façam isto em memória de mim. A seguir, depois de cear, tomou também o cálice e, tendo dado graças, o deu aos seus discípulos dizendo: Bebam dele todos; porque este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês para remissão dos pecados; façam isto, todas as vezes que o beberem, em memória de mim." Segundo a) Para que serve este comer e beber? Isto nos mostram as palavras: "Dado e derramado em favor de vocês, para remissão dos pecados." Por estas palavras nos são dados, no sacramento, perdão dos pecados, vida e salvação. Pois o­nde há perdão dos pecados, também há vida e salvação. Terceiro a) Como pode o simples comer e beber fazer coisas tão grandes? Não é o comer e o beber que fazem tudo isto, mas sim as palavras: "Dado e derramado em favor de vocês para remissão dos pecados." Estas palavras são, junto com o comer e o beber, o mais importante na ceia do Senhor. E quem crê nestas palavras tem o que elas dizem: perdão dos pecados. Quarto a) Quem recebe dignamente este sacramento? Jejuar e preparar-se exteriormente é, sem dúvida, uma boa disciplina. Mas verdadeiramente digna e bem preparada é a pessoa que crê nestas palavras: "Dado e derramado em favor de vocês para remissão dos pecados." A pessoa, porém, que não crê nestas palavras ou delas duvida é indigna e não está preparada. Pois as palavras "em favor de vocês" exigem que a pessoa creia de fato. Leiam-se Mt 26.26-29; 1Co 10.13-17 e 1Co 11.23-34.
[62] Obrigar – 1- Pôr na obrigação, no dever. 2 – Forçar, compelir. 3 – Empenhar. 4 – Preceituar, impor. 5 – Ligar-se a algum compromisso. 6 – Responsabilizar-se por. 7 – Forçar-se.
[63] Leiam-se Mt 7.1-5; 1Co 5; 1Co 11.27-32; 1Tm 1.18-20; 1Tm 5.19,20 e 1Pe 4.8.
[64] Leiam-se 2Cr 26.16-20; Sl 2.10-12; Rm 13.1-7; 1Tm 2.1-4 e 1Pe 2.13-17.

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